domingo, 23 de agosto de 2009

NONSENSE: "Decifra-me ou devoro-te"


"Sou tão misteriosa que não me entendo."
"O mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.Pois juro que a vida é bonita.”
Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.

A cada manhã, ao tocar o chão frio, sobe pelos pés e corre pela espinha o calafrio que invade o coração. É a vontade de desvendar os segredos do mundo. Os segredos do outro e da natureza. O segredo de como se lida com o amor. O segredo de mim mesmo.

E ao ficar em pé, a verdade nua e crua vem bambear as pernas: o mistério não vai ser revelado.
Pelo menos, não por completo. Não poderia. Não nesta vida terrena.

É este mistério universal que dá o gosto da descoberta, que impulsiona na direção do auto-conhecimento. E portanto, guia todo o questionamento sobre a grandeza da natureza, sobre a imprevisibilidade da paixão, sobre a infinitude do cosmos e da vida.

O mistério de ser, estar, sentir. O mistério de permanecer, ou de não poder mais permanecer. A novidade que te pega de surpresa, crescida dentro de um espaço que se julgava tão conhecido: o eu, o meu coração, a minha existência... sempre continuará a ser um mistério. Para quem é e para o outro.

O porquê está longe de ser decifrado. Este enigma intrincado dentro do peito continuará guardando o caminho secreto da existência.

Portanto, supreenda-se comigo e me surpreenda, por favor. Ou venha juntar-se a mim a decifrar-me. Traga a coragem para vislumbrar o que tenho guardado aqui. E não esmoreça, por favor, não desista. Não há outra forma de sentir que a vida é tão bela, a não ser aceitando profundamente o mistério da vida.

Om Shanti!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

REMEMBERING: nos tempos da Booker


Eu devia ter uns sete anos, minha irmã cinco. Estávamos na minha tia, que morava numa casa pequena a dois quarteirões de nós. Adorávamos ir lá! Era um pessoal animado, famiglia italiana, todos falando alto e ao mesmo tempo. Minha tia sempre carinhosa dava uns abraços desses de espremer contra o peito, peito de zia italiana. Vire e mexe dávamos uma passadinha na casa dela, para um café, uma conversa, para saber das últimas. Desta vez, era fim de tarde e estávamos lá com meu pai. Provavelmente porque ele "deu uma passadinha" para falar alguma coisa com o meu tio. (Na verdade, não são tios. Meu pai é filho único. São primos-irmãos, que foram criados tão próximos do meu pai que, para mim e para minha irmã, sempre foram nossos tios). E conversa vai, conversa vem, foi ficando tarde. Tínhamos chegado de dia e quando saímos já era noite. Umas dez da noite, talvez. E devia ser sexta-feira. Se fosse no meio da semana, meu pai não teria nos deixado ficar até tarde, porque amanhã tem escola! Acho até que a gente deve ter comido alguma tranqueira por lá tipo, pizza, bolo, bolacha, refrigerante, coisa que só se come em casa de tia mesmo. Não lembro muito bem.
Mas estávamos a pé e tinha dado aquela esfriada, e a gente de shortinho anos 80. Camisetinha sem manga e conga. Meu pai nos pegou pela mão, uma de cada lado, e fomos andando apressados. Rapidinho, rapidinho que está frio... A cada passada larga que ele dava, eu e minha irmã dávamos duas passadinhas largas de criança. Não tinha ninguém na rua. A molecada que sempre estava jogando bola por ali já tinha ido para a cama, nenhum cachorro latia, o guarda noturno já encostado e tirando um cochilo na cadeira. Tinha um grilo cri...cri...cri.. Uma névoa. Tinha também uns bueiros por ali, e de vez em quando corria alguma ratazana para dentro dele. E um terreno baldio com pés de mamona balançando com o vento. Vinha pouca luz dos postes e das casas. Nossa, se bobear era mais tarde, então... Não lembro muito bem.
E eu medrosa, com medo de fantasma, de ladrão e com frio, apertei forte a mão do meu pai. Meu pai forte e protetor, naquele dia disse que, naquele passo e de mãos dadas comigo e com minha irmã, ele iria até o fim do mundo! Eu era pequena, mas já entendia as metáforas. O medo passou. E eu sempre me lembro disso ,até hoje!
***
Na mesma rua, a das crianças jogando bola, do terreno e dos bueiros, duas casas para baixo da minha, morava uma grande amiga. Passamos boa parte da nossa pré adolescência brincando juntas. Eu não era muito de bola, e ela, um pouco mais velha que eu, também já não ligava tanto. Era uma tarde aqui, outra lá, trocando papel de carta, adesivos, cortando revistas... E o dia em que ela ganhou um radio-toca-fitas do pai? Eu não dava sossego porque queria gravar as músicas que tocavam no rádio. E também não dava sossego para a Pimpa, a cachorrinha!... Não lembro bem, mas acho que foi quando ela terminou o colegial que a família se mudou para outro estado.
Os anos passaram, eu fui cuidando da minha vida aqui e ela cuidando da dela, lá. Foram poucas as vezes em que a vimos novamente, já crescidas, numa dessas visitas de fim de ano. Mas como o mundo é uma pracinha, e a internet tem esse lado lindo de colocar as pessoas em evidência e em contato, descobri recentemente que minha amiga de infância é fotógrafa! Fiquei encantada com a sensibilidade dela. E feliz, em saber que o tempo passa e as pessoas queridas crescem, não só no tamanho, mas na existência.
E aqui está, então, publicada uma das fotos da minha amiga-de-infância-que-mora-distante! (prometemos uma para a outra nos encontrarmos na sua próxima visita a são paulo)
ps: Debs, eu sei que na foto acima são as mãos de um casal, mas pensando nos velhos tempos da Booker, ela me fez lembrar deste episódio com meu pai!
OM SHANTI!

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Médica formada na Faculdade de Medicina do ABC em 1999. Fez residência em Pediatria na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP até 2002.

Especializou-se em Homeopatia pela Escola Paulista de Homeopatia, atual ICEH, de 2003 a 2005.

Seu interesse em Ayurveda nasceu com o início das práticas de Yoga em 2002. Em 2007, fez o módulo I de formação em Yoga com Pedro Kupfer. Em 2008 concluiu a formação em Ayurveda na Clínica Dhanvantari em São Paulo, com Dr. Luiz Guilherme Corrêa Neto.

Na Índia, fez estágio em Ayurveda e Pregnancy & Baby Care na “School of Ayurveda & Panchakarma”, Kannur, Kerala, em Janeiro de 2009 e no Arya Vidya Peetam Trust, AVP Hospital, Coimbatore, em janeiro de 2010.

Atualmente trabalha na em seu consultório, atendendo a consultas de Pediatria e Puericultura, permeadas pela Homeopatia, pelo Ayurveda e pela sua bagagem de maternagem.

Escreve o blog PEDIATRIA INTEGRAL no Portal de maternidade ativa Vila Mamífera.

TODOS SOMOS UM