quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

DIARIO DE BORDO: Kannur

Depois de 3 voos, horas de aeroporto, 3 horas de viagem de carro bastante tumultuada, cheguei em Kannur!!!

Estou hospedada em um hotel no centro, Royal Omars. Nao eh a melhor opcao aqui, jah que kannur tem praia, e poderiamos ficar mais perto do mar. Mas o hotel fica a 5 minutos de carro da clinica onde estou estudando! Foi otimo rever Dra. Sapna e Dr. Rajesh!!! O ano passado a clinica deles era em outro lugar, meio decadente. Nao tinha muita estrutura, era abafado e escuro. A sala de aula virava sala de pratica, empurrando as cadeiras num canto. Mas agora nao! Eles mudaram para um espaco bem maior, confortavel e arejado! A sala de aula teorica tem paredes decoradas, lousa branca e ar condicionado! A sala de pratica eh enorme, com varios dronis (macas proprias para praticar ayurveda) .... isso para os padroes India, Kerala, e especialmente Kannur, eh um progresso enorme! Fiquei meuito feliz com a mudanca dos meus queridos amigos e professores!

As aulas comecaram e estao indo bem. Aqui em Kannur, a enfase eh na pratica, entao estou revendo abhyanga, shirodhara, pindasweda, bastis e especialmente kalari marma massage, que eles amam e fazem questao de ensinar, por ser uma tecnica tipica do Kerala. Alem disso, estou tendo aulas de beauty care com coisas muito natuirebas e baby care. Semana que vem Dr. Rajesh vai me dar umas aulas especiais de pediatria!

Dia primeiro de janeiro comeco as aulas de Harmonium.



 Eh um instrumento ocidental que caiu nas gracas do indianos e eh muito mais ticado aqui do que em qualquer outro lugar do mundo, principalmente nos bhajans. O Marco, um dos meus colegas brasileiros, toca sitar, e vamos ter umas aulas de musica juntos pra ver se conseguimos montar um grupinho de musica. Como toco teclado, acho que jah vai ser meio caminho andado para aprender um pouquinho do Harmonium, que nada mais eh do que um teclado com um fole.... veremos!!!

Enquanto isso, eu e a Barbara ficamos nos deliciando com todas as spicy foods que tem por aqui! Sao tantos sabores e aromas que a gente fica ate perdida! E assim labemos os beicos com os pulao, subzi, navaratma korma, palak paneer, paneer tikka, idli, dosa, gulab jamun.... uau.... and so on...




Este eh o IDLI - paozinho de farinha de arroz quye comemos com este molhinho apimentado, de cafe da manha!









Ficamos perdidas tambem nas lojas de tecidos! Compramos umas kurtas ontem, para passar o ano novo de roupa nova e cara de indiana!!!!



Este eh um conjuntinho basico: kurta, a blusa; dupatta, o lenco e a calca. Todas as mulhres se vestem assim aqui. Algumas outras andam de saree. Aqui em Kannur, nao se compra a roupa pronta. A loja tem o kit com o tecido pronto para a kurta, para a duppatta e para a calca, jah combinando o conjunto. E ai, a costureira faz sob medida!














Enfim! Tudo esta mais do que otemo por aqui!!! Definitivamente me sinto em casa! Minha amiga Barbara, apesar de ter chegado por aqui a primeira vez, esta tao adaptada que eh capaz de arrumar um indiano e ficar por aqui mesmo!!! HAHAHAHA.....

Mando mais noticias logo, e vou tentar postar umas fotos minhas.

As desta postagem sao da internet!

OM SHANTI!  HARI OM!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

INCURSÕES POÉTICAS: Haikai, a poesia zen

Cismei de escrever HAIKAI!


 Li vários haikais, tão lindos, sempre retratando uma bela imagem. E descobri que o haikai não é apenas um poema curtinho! Tive vontade de escrever também, e fui estudar um pouco de teoria literária, para poder fazer direito.

O Haikai, é uma forma poética de origem japonesa, com essência contemplativa e descritiva, que respeita basicamente quatro regras:
- tem 17 sílabas poéticas divididas em 3 versos, de 5, 7 e 5 sons.
- o tema é a natureza
- refere-se a um instante, com um clique da máquina fotográfica ao capturar uma imagem; retrata o momento presente, o agora, e não o que já passou
- possui um kigo: termo relativo a uma estação do ano, como primavera, verão etc, ou melancolia = outono; vivacidade = verão; flores, juventude = primavera; tranquilidade, reclusão = inverno e assim por diante.

Não há necessidade de colocar um título, nem letras maiúsculas. Eu prefiro a forma bem tradicional, respeitando a métrica, empregando o kigo e falando da natureza. O ideal é usar palavras simples, sem metáforas, e descrever aquele instante, sem a impressão subjetiva do poeta. O haikai clássico é um retrato. Escrevê-lo é capturar a essência do local, a união com a natureza e o contraste do efêmero com o eterno. Como neste:

Ao sol da manhã

uma gota de orvalho
precioso diamante.


Matsuo Basho (1644-1694)

Lembrando que a contagem das sílabas poéticas é diferente da contagem das sílabas gramaticais, que é própria da prosa:

in/se/gu/ra/ es/pe/ra /a /me/ni/na são 11 sílabas gramaticais.

E em in/se/gu/ra es/pe/ra a/ me/ni/na são 8 sílabas poéticas, pois a contagem termina na última sílaba tônica do verso. No caso menina é paroxítona, portanto "ni" é a última; e também por causa da elisão (quando uma palavra termina em vogal átona, ela se liga à proxima, caso esta se inicie com uma vogal ou com "h", conta-se uma sílaba só) e da crase (a fusão de dois sons vocálicos iguais). No haikai fica ao gosto do poeta: pode-se contar das duas formas. Eu prefiro a contagem das sílabas poéticas, tenho a impressão que assim o poema fica menos amarrado e, além de tudo, é mais... poético!

Adoro estudar essas coisas. Sempre curti literatura e foi no colegial e no cursinho que aprendi sobre métrica, poesia, prosa, tipos de discursos, narrações... Depois que entrei na faculdade, o que aconteceu muito mais às custas das minhas redações do que das provas de física e matemática, não estudei mais estas coisas especiais da língua portuguesa e hoje tento exercitar aqui o pouco que aprendi!


Mas, indo muito além de ser um exercício poético, o haikai fundamentalmente expressa em si a transitoriedade, salientada pelo emprego do kigo: assim como a estação do ano, tudo passa. O haikai retrata o aqui e agora, o presente. Escrever haikai é fazer o exercício de entrar em contato com o real, percebe-lo e compreendê-lo nas suas mais infinitas variedades e resumir de forma concisa aquele instante. Não deixa de ser um insight, um surto rápido e espontâneo de intuição, onde o poeta capta a imagem e tem o trabalho de colocá-la no papél de forma correta.

Não deixa de ser uma forma de meditação e de viver o aqui e agora.

Escrever haikai exige contemplação, que é buscar poesia, mistério, pequenas surpresas, nos acontecimentos mais simples e breves da vida, que tantas vezes passam despercebidos.


Hoje estou de plantão então, convenhamos, não tenho aqui na minha frente nada muito inspirador. Então, peguei algumas fotos da internet para contemplar... e deu nisso!

OM SHANTI!


                                                                      noite de verão
rápidas estrelas cadentes
brilham nos olhos







mil gotas de chuva
escorrendo na  janela
trazem solidão









cachoeira e rio
água pura em movimento
refrescando a pele

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

NONSENSE: e pesou o lado italiano!

Tarde de chuva hoje em São Paulo... (novidade, este mês só chove por aqui...) E, como combinado previamente com a minha mãe, deixei de ir dar plantão só para passar a tarde toda fazendo STRUFFOLI!

Struffoli é um docinho de Natal, que eu e minha familia,devido ao irrefutável background italiano, fazemos TODO, mas T-O-D-O final de ano. Já que viajo dia 25 para a Índia, estou me dando o direito de curtir o Natal bem antecipadamente. Para a nossa família está é realmente uma data especial. Apesar dos presentes e da comilança típicas de natal, a nossa curtição vai além disso, lembrando e revivendo os ótimos natais que sempre tivemos... prezando a memória dos que já se foram e agradecendo as bençãos que até hoje recebemos! O Natal é uma grande celebração para a Famiglia Gioielli!

O lado italiano vem da familia do meu pai. Mas minha mãe, logo que se casou, começou a se interessar pela cozinha italiana. As tias do meu pai, Angelo, irmãs dos meu avô Antonio, (Gracia, Anita e Luisa), eram grandes cozinheiras.

Quando eu e minha irmã éramos pequenas, eu devia ter uns 9 ou 10 anos, minha mãe chamou a Tia Luiza, naquela época já uma senhora, para passar a  tarde em casa, nos ensinando a fazer Struffoli. Aprendemos e desde então, nunca deixamos de fazer!

Meu avô delirava! Acho que ele ficava orgulhoso da única nora, que aprendeu a fazer este doce tipicamente napolitano, e aderiu fielmente à tradição da famiglia.

Hoje os dias estão muito mais corridos. Mas nós não conseguimos deixar de fazer os Struffoli, principalmente para lembrar do meu avô e da euforia que ele ficava na época de Natal! Como ele se deliciava com a fartura da mesa, a variedade de coisas que ele comprava nas suas idas ao Mercado Municipal... de onde ele sempre voltava com um sorrizão, uma sacolona e cantarolando: "tchan-tchan-tchan-tchan"... fazendo mistério sobre o que estava mais bonito e farto desta vez: azeitonas, gorgonzola, aliche...que saudade do meu vô!

A Tia Luisa é a única filha da Nona Anita que ainda está viva... velhiiiinha... mas tão velhiiiinhaaaa.... meus pais foram no ainversário dela de 95 anos há uns 3 anos atrás... e ela continua aí, mas, tadinha, em outra estratosfera, pois ela não reconhece mais ninguém. Ô dó!

Mas em memória do meu Vô Antonio e em homenagem à Tia Luisa e a toda a italianada da famiglia, hoje eu e minha mãe preparamos 2kg de massa, inúmeras minhoquinhas com ela, picamos em trocentos pedacinhos iguais, como mini-nhoquis...



 fritamos todos até atingirem a mesma cor dourada, e por último, passamos os mini-nhoquizinhos no mel! Até o ponto absolutamente certo, em que as bolinhas ficam todas grudadas por causa do mel. E a melhor parte é quando a gente estende as bolinhas melecadas no mármore da pia para esfriar.... depois, foi só acondicionar nas latas, e jogar um pouquinho de confeito em cima para ficar com aquela carinha típica italiana!

O ficou bastante parecido com este....




Dolce tipico della tradizione natalizia, gli struffoli sono piccole palline fritte ricoperte di miele e pezzettini di buccia di agrumi...belli da vedere e ottimi da mangiare!

E aqui, segue a receita:
 
RICETTA DEGLI STRUFFOLI


Ingredienti:

- Farina 600 gr ,
- Uova 4 + 1 tuorlo,

- zucchero 2 cucchiai ,
- burro 80 gr (una volta si usava lo strutto: 25 gr.)
-Scorza di mezzo limone grattuggiata
- Sale un pizzico
- olio (o strutto) per friggere

Per condire e decorare:
-Miele 400 gr ,
-confettini colorati (a Napoli si chiamano "diavulilli")
-confettini cannellini (confettini che all'interno contengono aromi alla cannella)


Questa è la ricetta tradizionale caratterizzata dall'assenza di lievito e struffoli particolarmente croccanti. Nel caso si preferiscono più gonfi, si può aggiungere all'impasto un pizzico di bicarbonato o di ammoniaca per dolci. In questo caso, la pasta deve riposare alcune ore.


Procedimento:


Disponete la farina a fontana sul piano di lavoro, impastatela con uova, burro, zucchero, la scorza grattugiata di mezzo limone,un bicchierino di rum e un pò di sale. Ottenuto un amalgama omogeneo e sostenuto, dategli la forma di una palla e fatelo riposare mezz'ora. Poi lavoratela ancora brevemente e dividetela in pallottole grandi come arance, da cui ricavare, rullandoli sul piano infarinato, tanti bastoncelli spessi un dito; tagliateli a tocchettini che disporrete senza sovrapporli su un telo infarinato.


Al momento di friggerli, porli in un setaccio e scuoterli in modo da eliminare la farina in eccesso.


Friggeteli pochi alla volta in abbondante olio bollente: prelevateli gonfi e dorati, non particolarmente coloriti. Sgocciolateli e depositateli ad asciugare su carta assorbente da cucina.


Fate liquefare il miele a bagnomaria in una pentola abbastanza capiente, toglitela dal fuoco e unite gli struffoli fritti, rimescolando delicatamente fino a quando non si siano bene impregnati di miele. Versare quindi la metà circa dei confettini e della frutta candita tagliata a pezzettini e rimescolare di nuovo.


Prendete quindi il piatto di portata, mettetevi al centro un barattolo di vetro vuoto (serve per facilitare la formazione del buco centrale) e disponete gli struffoli tutt'intorno a questo in modo da formare una ciambella. Poi, a miele ancora caldo, prendete i confettini e la frutta candita restanti e spargetela sugli struffoli in modo da cercare di ottenere un effetto esteticamente gradevole.


Quando il miele si sarà solidificato, togliete delicatamente il barattolo dal centro del piatto e servite gli struffoli.



BUON  NATALE E TANTI AUGURI PER TUTTI LA FAMIGLIA!!!!




Om Shanti!

ps: pena que não pude fotografar o nosso, estas fotos e a receita eu tirei da internet... mas, modéstia à parte, meu struffoli ficou beeemmm mais bonito! rs..

domingo, 22 de novembro de 2009

NONSENSE: deu samba!







O "Entrego, confio, aceito e agradeço" do Prof. Hermógenes, na explicação mais sambística e alto astral de Zeca Pagodinho!!!











"Eu já passei

Por quase tudo nessa vida
Em matéria de guarida
Espero ainda a minha vez
Confesso que sou
De origem pobre
Mas meu coração é nobre
Foi assim que Deus me fez...
 
Deixa a vida me levar

(Vida leva eu!)
Sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu...
 
Só posso levantar

As mãos pro céu
Agradecer e ser fiel
Ao destino que Deus me deu

Se não tenho tudo que preciso
Com o que tenho, vivo
De mansinho lá vou eu...


Se a coisa não sai
Do jeito que eu quero
Também não me desespero
O negócio é deixar rolar
E aos trancos e barrancos

Lá vou eu!
E sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu...


Deixa a vida me levar

(Vida leva eu!)
Sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu..."

E não é que deu yoga no samba??? Genial....
 
OM SHANTI!!!

sábado, 21 de novembro de 2009

SAIBAM: All set!

Tudo certo: dia 25 de dezembro, bye bye todo mundo, vou embarcar para a Índia! - de novo!
Muita gente torce o nariz, tipo, como de novo? Você ainda NÃO cansou? Não, não cansei, nem vou cansar tão cedo. Aliás, vim embora de lá com vontade de ter ficado mais... tanta coisa para ver, aprender, absorver... Assim como no meu intercâmbio na Africa do Sul, quando eu era ainda uma molequinha, a vontade de ficar mais foi enorme. Coisa que não aconteceu em outras viagens, igualmente interessantes e ricas, que eu fiz por aí! Talvez porque não tenham sido viagens TÃO transformadoras...


Mas, o fato é que vivo tão intensamente estas viagens e me realizo nelas deuma forma tão profunda, que eu sempre volto diferente!

Enfim! Já tomei o fôlego para a primeira maratona: São Paulo - Johanesburg - Mumbai, numa perna só. Pernoite em Mumbai, logo cedo vôo para Calicut e van para Kannur. Levem em consideração horas de espera no aeroporto, jet-lag, taxis malucos, vans chacoalhantes e estradas lotadas e barulhentas....

Primeira parada em Kannur, que eu já conheço! Vamos reencontrar Dra. Sapna e Dr. Rajesh Deven, os professores que nos receberão no Ayurveda College. Com eles vou rever todas as técnicas de tratamento como Abhyanga, Shirodhara, Pinda Sweda, Udwartana , Bastis localizados, Kalari Marma Massage, entre outros, e vou aproveitar para fazer o curso de Beauty Care, que não deu para fazer o ano passado.
http://www.ayurvedacollege.net/about%20us.html

Dez dias em Kannur e seguimos para Kottakkal., onde ficaremos internos no hospital do Arya Vaidya Sala, estudando com Dr. Hari e equipe. Lá vamos passar visita nos leitos, discutir casos e nos aprofundar mais na teoria e nos detalhes do Panchakarma. Vamos ver se eu consigo ver alguma coisa mais específica em Pediatria, já que esta é a minha especialidade! O Ayurveda tem coisas maravilhosas para as crianças!




Ayurvedic Hospital & Research Center, Kottakkal (Coimbatore)

http://www.aryavaidyasala.com/(S(wu1oux55eny3wf45hh3kti45))/index.aspx



Depois, mais uns dias em Pune, com a Dra. Sonali Shinde, que coordena o Kerala Ayurved Chikitsalayam. Ela já está acostumadíssima aos brasileiros, recebe muita gente por lá, e já esteve aqui nos visitando na Clínica Dhanvantari em 2008, ou seja, não tenho nenhuma dúvida que vai ser ótimo!
http://www.keralayurveda.com/index.html

Fora tudo isso, esta volta à Índia vai me trazer um novo fôlego, além do embasamento necessário para seguir atuando com Ayurveda.  Estou muito feliz atendendo à consultas e dando aulas nos cursos da Clínica Dhanvantari e quero muito por em prática todos os planos para 2010, com todo embasamento necessário para exercer o Ayurveda na sua forma mais fidedigna.

A Índia tem esse atributo, essa qualidade, de remexer tudo o que tem dentro da gente, gerando uma nova forma, dando novos parâmetros, propriciando um novo olhar sobre o que se acha que se conhece. Não sei exatamente porque acontece isso, mas é uma unanimidade: todo mundo volta da Índia transformado. Nem que seja só um pouquinho. Nem que seja só uma viagem de turismo bem quadradona só para treinar a tolerância, a paciência e o desapego (todas essas coisas a gente tem que ter lá!) ou que seja uma viagem para uma busca maior, não importa. N-I-N-G-U-É-M passa incólume pela Índia!



Resta saber qual vai ser a metamorfose e a mudança de paradigma desta vez. Podem esperar de tudo, viu? E não se surpreendam. O propósito da minha viagem são os estudos, MAS... eu SEI que a mudança não será tão estreita....

OM SHANTI!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

NONSENSE: no amor de Krishna & Radha

Quem já não se angustiou com  tanta gente ruim no mundo, fazendo tanta coisa ruim? Tanta miséria, doença, tristeza, catástrofe... gente mal intencionada, governantes corruptos, capitalistas vorazes, diferenças sociais... não quero nem começar a fazer a lista de tudo o que tem de ruim neste mundo...
É... os indianos diriam: "são os tempos de KALI YUGA" - a era das trevas... esperançosos que um dia este mundo "acabe", se transforme e se reconstrua de uma outra forma, onde haja o predomínio de ações dharmicas e da compaixão.

Mas por enquanto, seguimos aqui neste nosso mundinho miserável mesmo. Que tem a maior miséria de todas: a ilusão DUALIDADE - eu sou eu, você é você e está tudo certo. O que interessa é a minha vida, o meu  bem estar, o meu alimento, o meu trabalho, o meu dinheiro, o meu conforto, a plena satisfação do meu ego e dos meus desejos (incrível com tem gente que leva isso tão absurdamente a sério, não?... nossa!...)

No fundo, a maioria sabe que não deveria ser assim! Mas é fácil compreender porque, de uma forma generalizada, o ser humano se vê à parte dos demais, da natureza e do universo, apesar de estar tão obviamente inserido neles:

Tudo, tudo, tudo está representado como pares de opostos:

ANNA (matéria) X PRANA (energia),
SOMA (o que é passível de ser desintegrado) X AGNI (o que desintegra),
energia potencial X energia cinética,
calor X frio,
feminino X masculino,
YIN X YANG,
CHANDRA (lua) X SURYA (sol)
PURUSHA X PRAKRUTI



Tudo está colocado de uma forma absolutamente dual neste mundo. Por isso a sensação de separação... parece mesmo que estamos separados um do outro e separados do universo. Aliás, esta é a constatação mais óbvia para a maioria das pessoas!

Mas não! Veja só, é tão claro: os pares de opostos que coloquei acima, acontecem em todos os níveis: no universo e também em cada uma das nossas células. Tanto no infinito e imensurável cosmos, como na nossa mais ínfima e insignificante célula, acontecem reações que geram calor, energia, reações de expansão ou retração, degradação, crescimento, produção de água, transformação de substâncias... tudo tão infinitamente e perfeitamente interligado - que é possível que tudo seja mesmo uma coisa só, de tanta harmonia. Quando duas coisas opostas ou separadas estão absolutamente harmonizadas, se tornam uma.



Para realizar a não dualidade é imprescindível a busca, o empenho sincero em  fazer com que esses pares de opostos estejam em tão perfeita harmonia, que os opostos desapareçam, e fiquem UNOS - como Krishna e Radha, unidos no amor universal e incondicional, PREMA. A imagem do evanescimento dos opostos, da conjunção perfeita e equilibrada.

É nesta conjunção divina e amorosa que realizamos Deus, que meditamos, que podemos ser não-violentos, que nos enchemos de compaixão, que nos relacionamos de forma saudável com o próximo e com nós mesmos.

Muita gente busca, pouquíssimas realizam... talvez os sábios e os santos...


Mas, nestes tempos de kali yuga, onde a vida terrena é bem mais curta do que um piscar de olhos de Brahma, já é um grande passo ter consciência... e permitir que a mais perfeita harmonia entre os opostos ser realize, pois esta é a tendência natural e divina das coisas... basta deixar as coisas acontecerem, se envolverem, ficarem unas no mais infinito amor universal!...

OM SHANTI!

"You may say I'm a dreamer,

but I'm not the only one,
I hope some day you'll join us,
And the world will live as one"
(John Lennon)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

SAIBAM: Mantras no dia a dia!

Percorrendo o meu caminho pelo Yoga e pelo Ayurveda venho aprendendo a entoar mantras e slokas.

A palavra MANTRA pode ser traduzida do sâncrito como "instrumento do pensamento": MAN deriva de MANAS, que quer dizer mente ou pensar, e o sufixo TRA significa ferramenta.

Compostos de apenas uma sílaba (como o mantra OM) ou por frases inteiras, os mantras têm de ser pronunciados corretamente e com o entendimento do que ele quer dizer. Assim é possível usufruir do benefício da sua repetição, seja com a finalidade de concentração, cura, prece, canto... o resultado final de entoar um mantra é sempre benéfico e traz um tremendo bem-estar. Nos leva diretamente ao encontro com a nossa paz interior, o nosso "inner self".

Para incrementar a minha prática, trouxe da Índia um insrumento chamado Shruti Box - é um fole, com umas chaves para você escolher o tom que deseja. Dependendo se vai tocar em grupo ou sozinho, pode-se ajustar o tom em dó maior, por exemplo, ou o tom que mais se ajusta a sua voz. É só acertar o tom e apertar e ele vai: OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOMMMMMMMMMMMMM.....



e assim vai você junto, inspira e  .... LOKÁ SAMASTÁ SUKHINO BHAVANTU .... ("que todos os seres sejam felizes")....   e inspira profundamente e ....OM SHANTI SHANTI SHANTIH, HARI OOOOMMMMM...... ("que haja paz, paz, paz, que assim seja")....

Entoar mantras com o Sruti box é divino, mas ele não é necessário! Não é preciso vocalizar os mantras o tempo todo, eles podem ser apenas mentalizados, aliás, é este o ideal. Ou o mantra pode ser recitado por repetição, se chama japa: com o auxilio de um japa-mala, um rosário de 108 contas, a fim de aumentar o seu efeito. Ou ainda na forma de kirtan, um grupo de pessoas cantando juntas, onde uma entoa o mantra e as outras respondem, repetindo. Como faz o Krishna Das em seus CDs.

No dia-a-dia estou me habituando a entoar mantras em alguns momentos especias, como fazem os hindus: ao acordar, antes de comer e antes de deitar. No mínimo, já que no hinduísmo há mantras também para a hora do banho, para cozinhar, para preparar medicamentos, para acender uma lamparina, para iniciar ou terminar uma aula (não necessariamente de yoga, aula mesmo, tipo de faculdade), nos pujas (preces, rituais), um número enorme de mantras para cada uma das divindades hindus... Se você quiser pode passar o dia inteiro entoando mantras! Preciso me certificar se já existem mantras modernos para dirigir, para antes de escrever no blog, para antes do plantão ou da reunião.... brincadeira!

Para momentos que exigem concentração, dedicação, ou em situações difíceis em que seja necessário tranquilidade, proteção e equilíbrio espiritual, pode-se entoar o GAYATRI MANTRA... Mas eu precisaria de um novo post para explicá-lo, pois este é o mantra dos mantras, o mantra mais sagrado dos Vedas, o mais importante das tradições hinduístas.

De qualquer forma, tinha pensado em compartilhar aqui com vocês, um mantra para antes das refeições.





É quie a maioria de nós tem o hábito de agradecer a refeição, de agradecer o fato de não nos faltar o pão. Mas não nos damos conta que o alimento para o corpo é também alimento para a alma. O alimento deve ser visto como oferenda divina(prasada) para o nosso corpo e, além disso, através da sua essência, como alimento para a alma. Já que Brahman tudo permeia, ele está também no alimento e está também dentro de nós.

Faz parte do puja (ritual) a oferenda de alimentos, para reverenciar determinado deus. Da mesma forma, ao nos alimentarmos estamos reverenciando o deus que existe em nós. Na Índia, na saída dos templos, ao final dos pujas, todos recebemos prasada - a oferenda divina.

Então, antes de levantar o garfo e devorar aquele pratão de lasanha, contenha-se e tome consciência da divindade do alimento que irá enriquecer a sua alma! Se quiser, entoe o mantra:

brahmárpanam brahmahavih bramágnau brahmaná hutam

brahmaiva tena gantavyam brahmakarmasamádhiná

"Qualquer meio de oferenda é Brahman, o fogo na qual a oferenda é feita é Brahman, aquele que oferta é também Brahman. De fato, atinge Brahman quem reside em Brahman"

Para ouvir como se pronucia este mantra você pode acessar: http://yogavaidika.blogspot.com/2009/08/purna-vidya-heranca-vedica.html 

Lá tem outros muitos mantras interessantes, para antes de levantar, para antes de dormir, para paz.... É um blog muito rico, vale a visita! 

OM SHANTI!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SAIBAM: A visita do Dr. Vasant Lad e Pandit Rajmani Tigunait ao Brasil



Semana passada tive a maravilhosa oportunidade de conviver durante 6 dias com Dr. Vasant Lad e Pandit Rajmani, na visita deles ao Brasil! Coisa que só aconteceu com o esforço, a dedicação e com a ação conjunta de um grupo especial de pessoas e com as bênçãos de Lord Dhanvantari.

Não sei nem descrever a vocês o tamanho da felicidade de todos nós, que trabalhamos, estudamos e vivemos o Yoga e o Ayurveda, de ter Dr. Lad aqui no Brasil. Ele é talvez a figura mais importante no mundo médico do Ayurveda atualmente. Dr. Lad é um Vaidya, título que em sânscrito quer dizer uma pessoa versada em medicina, que detém o conhecimento, um Doutor, no sentido mais amplo da palavra. Não consigo achar uma palavra em português para traduzir corretamente o termo Vaidya. Já que todos os doutores que conheci aqui no ocidente, tinham muito a me oferecer em termos de conhecimento técnico, mas nenhum deles tinha a humildade, a dedicação, a simplicidade, a amorosidade e a compaxão do Dr. Lad... Isso é realmente especial nele. Eu nunca tinha estado na presença de um Vaidya de verdade!

Maior ainda foi a minha alegria de ter a oportunidade de estar tão perto do Dr. Lad, frequentando suas aulas, conversando informalmente, dando uma ajuda eventual no que ele precisasse. Aprendi só de estar na presença dele. Só a presença do Dr. Lad já é uma lição.

 No dia 14 de outubro tivemos o Simpósio de Ayurveda e Yoga, realizado no anfiteatro de saúde Pública da USP. Um dia inteiro de exposições, com auditório lotado! Ficamos todos muito felizes com a repercussão do evento! Eu fiquei encarregada de fazer as apresentações. Acho que fiz direito, mas não pude esconder um certo nervosismo com a responsabilidade de apresentar pessoas tão especiais!

Nos dias 15 a 18 de outubro estivemos em São Francisco Xavier para dois dias de aulas com Dr. Lad e outros dois dias com Pandit Rajmani Tigunait. Foram dias realmente especiais. Lá em São Francisco formou-se uma verdadeira egrégora: uma somatória de energias físicas, emocionais e mentais de um grupo de pessoas, que se reuniram com uma finalidade. Nos meus próximos posts vou tentar compartilhar muito do que aprendi nestes dias! Foi muita coisa! Ainda estou organizando meus pensamentos aqui! Rs...

Em 19 de outubro aconteceu a visita do Dr. Lad à Clínica Dhanvantari, onde trabalho, junto com Dr. Luiz Guilherme. Mais uma vez a emoção tomou conta de todos. Lágrimas nos olhos, sorrisos, abraços e agradecimentos pela oportunidade de ter Dr. Lad tão pertinho de nós. Foi uma palestra para um grupo especial de médicos, que exercem ou que têm a intensão de exercer o Ayurveda da maneira mais correta e tradicional aqui no Brasil.

Depois disso fomos almoçar com ele, antes do seu embarque de volta para os Estados Unidos, onde ele mora. Tive então, a oportunidade de me despedir adequadamente, agradecer a vinda dele aqui pela centésima vez e também, dar uma de fã, que eu sou mesmo, tirar foto e ganhar a assinatura dele no meu livro! rs...

Resumindo, foram dias realmente especiais. Para mim, que trouxe o Ayurveda e o Yoga tão integralmente à minha vida, e como  médica com a resposnsabilidade de exercer esta medicina tradicional da forma mais fidedigna possível, não posso expressar a minha satisfação e minha felicidade em ter aprendido tanto com a presença destas duas assumidades: Dr.Vasant Lad e Pandit Rajmani Tigunait.

E, acima de tudo, fico muito feliz de ter conhecido o Dr. Luiz Guilherme, de estudar com ele e aprender muito com ele também. Foi ele que notou no meu coração uma disposição verdadeira de trabalhar e de me dedicar ao Ayurveda. E me abriu as portas da Clínica Dhanvantari. Reconheço nele a vontade de fazer com que o Ayurveda seja reconhecido e respeitado como um sistema médico, que seja exercido de forma responsável, respeitando os seus princípios éticos e a sua forma mais fidedigna e tradicional. Este, sem dúvida e do fundo do meu coração, é o meu grande objetivo também!

OM SHANTI!

sábado, 10 de outubro de 2009

SAIBAM + INCURSÕES POÉTICAS: Shiva Nataraja


Lord Shiva sentado sereno
forte sólido
observa as águas do Ganges
correndo
levando desejos, pedidos
oferendas, luzes
e Fé

Dos cabelos de Shiva
brota a água do Rio
Seu tridente, trishula, aniquila
a ignorância humana


Shiva é o fogo transformador
Seu tambor, damaru, dita o ritmo
do universo
em constante mutação


Que Lord Shiva nos permita mudar,
assim como o universo, sair da inércia
e aprender a transformar

através de seu fogo
e de seu calor

deixar o velho e construir o novo


Que sua dança, nataraja, nos leve
no ritmo eterno da vida
a alcançar os mais altos
propósitos da existência



"Om Namah Shivaya!"



Om Shanti
*Lord Shiva fotografado em Parnath, Rishkesh, às margens das águas ainda puras do Ganges, por Flavio Barone. Janeiro 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009

SAIBAM: Acho que estou aprendendo...

Acho que estou aprendendo o que é compaixão e o que é discernimento. Depois dessas minhas andanças pela Índia e pelo Butão, estudando yoga, budismo e hinduísmo, acho que aprendi alguma coisa.

Estava hoje assistindo à apresentação da tese de mestrado de um colega cirurgião, na Universidade onde sou docente. Ele quer estudar se a vitamina C tem um bom efeito no tratamento de queimaduras de segundo grau. Para tanto, ele vai utilizar cobaias, tendo que provocar queimaduras com água fervendo nelas.


No momento em que ouvi a apresentação do método de estudo, me senti mal. A sala estava quente e comecei a ter uma falta de ar. Nem preciso dizer que não ouvi o resto da apresentação deste projeto, não só porque fiquei imaginando os porquinhos da índia sendo machucados - mesmo porque o colega enfatizou que eles seriam anestesiados antes de sofrer a queimadura - mas porque, com aquele mal estar, minha mente virou um turbilhão. Olhei os rostos das pessoas procurando alguém tão indignado quanto eu... em vão...


Lembrei dos meus tempos de estudante de medicina em que operávamos sapos e cachorros (anestesiados, mas de qualquer forma eles morriam no final) e que, naquela época, aquilo não me causava muito incômodo. Sempre tive fama de gostar de bichos, mas acho que me agarrava no discurso de que não havia outro jeito de eu aprender algumas coisas da medicina... será que não tem mesmo? E eu também ainda não havia viajado tanto, estudado, vivido e sofrido esta mudança gradual nos meus preceitos éticos.


Uma vez, quando eu estava no 4o. ano, fizemos um experimento com 10 camundongos. Consistia em aplicar uma injeção de calmante neles. Não lembro exatamente o porquê do experimento - só sei que eles não sofriam, só dormiam. Mas teve um que acordou! Juro! E eu sabia que, quando a aula terminasse, ele iria ser sacrificado. Não tive dúvida: enfiei o camundongo no bolso do avental e trouxe para casa! O mais engraçado foi passar no petshop e, com o camundongo em cima do balcão, perguntar para a moça: "que gaiolinha você acha boa para criar um ratinho?" A moça respondeu seu eu queria mesmo criar "isso"... ninguém gosta muito de rato, né? Mas eu adorava a Margô! Ficou na minha casa bem uns meses, até minha empregada se encher do cheiro do xixi dela e dar sumiço na pobrezinha....


Mas, voltando ao meu sentimento de hoje: não fiquei com raiva do colega dono do projeto. Acho que senti compaixão por ele também. Talvez a escolha por este método cruel de estudo seja apenas falta de discernimento dele. Ele ainda não descobriu o sentido da compaixão, ou tem o ego grande demais (como é de praxe entre os cirurgiões) o que o faz sentir que pode subjulgar uma outra espécie. É a ilusão, mais uma vez maya, que não o deixa perceber a realidade, a Verdade. Neste caso a verdade é: todos somos seres pertencentes a um mesmo universo. Ninguém tem direito de machucar propositalmente o outro.


É muito ruim proporcionar sofrimento ao outro. EU tenho essa sensação - e as pessoas me acham estranha porque eu não mato mosca, nem abelha, nem aranha, nem lagartixa, nem mariposa - me dou o trabalho de tocá-las para fora... E é muito triste que ele não tenha essa sensação também.

Triste que ele não conheça AHIMSA - a não violência - o principal preceitos ético do yoga e do budismo.

Triste ele não saber quantos "pontos negativos" ele vai acumular no seu CrediKarma... já que ele não sabe o que é uma ação dhármica.

Triste ele não pensar que poderia se superar, ter um reconhecimento muito maior e provocar um bem maior, caso optasse por quebrar um pouco mais a cabeça e achar um método não-vilento para estudar o tratamento das queimaduras.

Triste saber que este é apenas um exemplo pequeno perto do que acontece nas caçadas, touradas, nos rodeios, na farra-do-boi, casacos de pele, indústria de cosméticos, abatedouros.... e outras atrocidades em nome da diversão humana.

Mas alguém poderia argumentar: mas pelo menos ele vai estudar um remédio que poderá trazer benefícios para a humanidade, futuramente. Sim. Mas queimadura é acidente e, às vezes, violência. Acidente e violência se previnem. Prevenção se faz com educação. Porque não estudar a prevenção? Porque não fazer um estudo não-violento? Porque muitos médicos acham que prevenção não é medicina?

Agora só me restar torcer por este meu colega, que não é uma pessoa ruim, de jeito nenhum! Ele está apenas sem saber o que está fazendo. Enxergando através do véu da ilusão: maya. Espero que ele atenda muitos pacientes graves e opere muitas pessoas na emergência. Que salve muitas vidas. Assim, quem sabe, o saldo do CrediKarma dele possa chegar perto do positivo!

Eu aqui, vou fazendo a minha pequena parte - já argumento sobre a necessidade de matar animais para estudar medicina, testar remédios etc., não uso produtos testados em animais. Estou no caminho de tornar-me vegetariana. Ainda não resisto a um belo sushi, mas não como mais carne vermelha. Não que eu despreze o peixe - é a ilusão que não me permite ver um prato lindo de sushi como um cadáver... porque é um cadaver mesmo, né?... Mas sinto assim quando eu olho uma peça de picanha sangrando! Acredito que, com o tempo e com dedicação, eu consiga me livrar de mais esta ilusão, (pelo menos já estou consciente que ela exite), e me torne vegetariana de uma vez por todas - em nome de AHIMSA, que eu carrego tatuada na perna... eu chego lá, espero que seja nesta atual edição!



Om Shanti!

sábado, 19 de setembro de 2009

NONSENSE: Devaneios Metafísicos em busca da LUZ!

Tem gente que acha que as minhas preocupações deveriam ser mais com o cotidiano, queriam que meus devaneios fossem menos metafísicos. Seria melhor preocupar-me apenas com se vai chover ou não, com a opinião do chefe, com o trânsito. Preocupar-me em viver a vida da forma mais superficial possível. Sem questionamentos. Sem a angústia de preseguir o auto-conhecimento. Conformada com a minha "humanisse".

Para que buscar de onde vem a alma, não é mesmo? Porque desvendar os segredos do coração? Para que buscar entender o papel das pessoas na minha vida? Porque buscar a razão dos acontecimentos? Porque buscar explicações do porque estou aqui? Porque isto aconteceu ontem, não hoje? Como este livro veio parar na minha mão?

É melhor apenas achar que tudo isso não passa de um bando de coincidências. Coincidência, ponto. Acaso, ponto. E encerra-se o questionamento e acaba a aflição, ponto. E vive-se na ignorância e ponto, fim de papo.

Mas não. Isso é viver na ilusão. No Hinduísmo, esta ilusão é maya. Maya é resultado da ignorância. Ignoramos a Verdade Suprema. Sim, existe uma Verdade que rege o Universo, o Cosmo. Somos todos parte deste Universo, estamos inseridos nele. Ou melhor ainda, somos uma representação do Unviverso, um microcosmo (não diz a Bíblia que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança? Pois então!) Mas vivemos em maya, achando que somos separados do Todo, que estamos desligados do Cosmo. Maya funciona como um véu diante dos olhos, que deixa a visão nublada. Um véu que impede a percepção clara, a entrada de Luz.

O caminho para se libertar de maya é o auto-conhecimento e a busca da Verdade. A ausência de maya e constatação da Verdade é a liberdade definitiva, é a saída deste estado de ignorância chamada Moksha: a Iluminacão! Livrar-se deste véu da ignorância e deixar-se invadir pela Luz da Verdade. E enxergar os fatos sob a Luz da Verdade. (É por isso que eu gosto tanto quando me desejam "LUZ!", sou invadida por uma esperança inexplicável!) A Iluminação é mais do que a simples constatação que todos somos UM. É experimentar na prática que EU e o Universo são uma falsa dicotomia.

Portanto, tentando explicar para aqueles que não entendem os meus devaneios e a minha busca: os questionamentos metafísicos de agora são apenas um pequeno exercício, um pequeno esforço, para tentar iniciar o caminho do auto-conhecimento. Apenas um aquecimento em direção do longínquo estado de moksha, que só deve acontecer daqui umas três, quatro ou muitas outras edições minhas.

Na minha edição atual, cheia de rodapés e notas do tradutor, vou desvendando alguns mistérios e constatando:

que coincidência, que nada, é o cosmo que conspira! As coincidências são um sinal de alerta do próprio Universo: vá buscar, vá entender, vá saber o porquê. Da próxima vez que acontecer alguma coisa que se julga ser apenas uma coincidência, uma obra do acaso, aguce a sua percepção e proure pela Luz!

Q-u-e-s-t-i-o-n-e.

Atreva-se a iniciar este caminho!

Om Shanti!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

REMEMBERING + NONSENSE: Menininhas do meu coração


Minhas amigas, há quinze anos! Até hoje somos menininhas, cheias de risadinhas, cochichos, estórias e caprichos... Todas juntas, quantos sorrisos... e abraços e beijos e torcidas!

E mais palpites sobre o cabelo, e consolo para as dores de cotovelo!

Amiga minha madrinha, amiga de plantão
amiga na dela ou cheia de sugestão

Amiga companheira que me arranca da solidão

Amiga que faz estética, G.O., otorrino,
amiga advogada, executiva e afins,
amiga para cuidar de mim

Amiga grávida ou que ainda não casou
amiga psicóloga para dizer-me onde estou

Amiga sortuda, amiga rica, amiga dura,
amiga brava, amiga meiga, amiga madura...

Celebramos bons tempos
Dividimos o drama
Falamos besteira

Um brinde a vocês, queridas
que fazem da minha vida
uma grande brincadeira...
OM SHANTI!

PS 1: Não preciso nem comentar que o estopim para este post foi a noite do último sábado, em que estivemos todas juntas, o que não acontecia há um bom tempo, dando uma regredidazinha básica: dançando, pulando de copo na mão, rindo sem parar, fofocando, bisbilhotando, correndo de lá pra cá, esquecendo da vida, virando criança, matando as saudades! Aí resolvi regredir por inteiro e escrevi este post infantilzinho...
Primitivo e necessário!
E que bom que, nem o tempo nem a vida, nos tiraram a graça de nos sentirmos meninas de novo...

PS 2: a foto é de outubro de 2007 - não estão todas aí....
PS 3: e eu adoro fazer declaração de amor!

sábado, 5 de setembro de 2009

INCURSÕES POÉTICAS: Breve momento

É quando a natureza dá seu espetáculo
e os raios de sol de todas as cores
invadem o céu


quando a água morna vem desenhar na areia
as linhas brancas feitas de sal


quando a brisa suave toca meu rosto
como as suas mãos, delicadamente


e os pássaros cantam docemente
enchendo o ar com alegria


quando a beleza do fim do dia
invade o corpo e a alma...
me dou conta que
o pouco tempo que tivemos
foi tão imenso quanto este breve momento


Om Shanti!

* foto minha, feita em Jericoacoara, janeiro de 2005.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

NONSENSE: O bode pede as palavras do mestre


Hoje não vou me arriscar a escrever, devido ao bode em que me encontro. Então, deixarei por conta do mestre exteriorizar muito do que se passa oculto neste meu coração. Muito, mas ainda não tudo... Depois, desamarrando o bode, prometo TENTAR comentar o texto... se bem que... será? Comentar o que é absolutamente perfeito e extraordinário? Nah... Tá bom, talvez eu tente produzir alguma coisinha ínfima de interessante inspirada por este mestre:Vinícius. Sim, de novo! Viciei acho. Não. É que eu ainda não o esgotei todo. Esta fonte de inspiração, inesgotável!
Om Shanti!

Amigos meus (1965)

"Ah, meus amigos, não vos deixeis morrer assim... O ano que passou levou tantos de vós e agora os que restam se puseram mais tristes; deixam-se, por vezes, pensativos, os olhos perdidos em ontem, lembrando os ingratos, os ecos de sua passagem; lembrando que irão morrer também e cometer a mesma ingratidão.

Ide ver vossos clínicos, vossos analistas, vossos macumbeiros, e tomai sol, tomai vento, tomai tento, amigos meus! – porque a Velha andou solta este último Bissexto e daqui a quatro anos sobrevirá mais um no Tempo e alguns dentre vós – eu próprio, quem sabe? – de tanto pensar na Última Viagem já estarão preparando os biscoitos para ela.

Eu me havia prometido não entrar este ano em curso – quando se comemora o 19640 aniversário de um judeu que acreditava na Igualdade e na justiça – de humor macabro ou ânimo pessimista. Anda tão coriácea esta República, tão difícil a vida, tão caros os gêneros, tão barato o amor que – pombas! – não há de ser a mim que hão de chamar ave de agouro. Eu creio, malgrado tudo, na vida generosa que está por aí; creio no amor e na amizade; nas mulheres em geral e na minha em particular; nas árvores ao sol e no canto da juriti; no uísque legítimo e na eficácia da aspirina contra os resfriados comuns. Sou um crente – e por que não o ser? A fé desentope as artérias; a descrença é que dá câncer.

Pelo bem que me quereis, amigos meus, não vos deixeis morrer. Comprai vossas varas, vossos anzóis, vossos molinetes, e andai à Barra em vossos fuscas a pescar, a pescar, amigos meus! – que se for para engodar a isca da morte, eu vos perdoarei de estardes matando peixinhos que não vos fizeram mal algum. Muni-vos também de bons cajados e perlustrai montanhas, parando para observar os gordos besouros a sugar o mel das flores inocentes, que desmaiam de prazer e logo renascem mais vivas, relubrificadas pela seiva da terra. Parai diante dos Véus-de-Noiva que se despencam virginais, dos altos rios, e ride ao vos sentirdes borrifados pelas brancas águas iluminadas pelo sol da serra. Respirai fundo, três vezes o cheiro dos eucaliptos, a exsudar saúde, e depois ponde-vos a andar, para frente e para cima, até vos sentirdes levemente taquicárdicos. Tomai então uma ducha fria e almoçai boa comida roceira, bem calçada por pirão de milho. O milho era o sustentáculo das civilizações índias do Pacífico, e possuía status divino, não vos esqueçais! Não abuseis da carne de porco, nem dos ovos, nem das frituras, nem das massas. Mantende, se tiverdes mais de cinqüenta anos, uma dieta relativa durante a semana a fim de que vos possais esbaldar nos domingos com aveludadas e opulentas feijoadas e moquecas, rabadas, cozidos, peixadas à moda, vatapás e quantos. Fazei de seis em seis meses um check-up para ver como andam vossas artérias, vosso coração, vosso figado.

E amai, amigos meus! Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres, este, sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.

domingo, 23 de agosto de 2009

NONSENSE: "Decifra-me ou devoro-te"


"Sou tão misteriosa que não me entendo."
"O mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.Pois juro que a vida é bonita.”
Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.

A cada manhã, ao tocar o chão frio, sobe pelos pés e corre pela espinha o calafrio que invade o coração. É a vontade de desvendar os segredos do mundo. Os segredos do outro e da natureza. O segredo de como se lida com o amor. O segredo de mim mesmo.

E ao ficar em pé, a verdade nua e crua vem bambear as pernas: o mistério não vai ser revelado.
Pelo menos, não por completo. Não poderia. Não nesta vida terrena.

É este mistério universal que dá o gosto da descoberta, que impulsiona na direção do auto-conhecimento. E portanto, guia todo o questionamento sobre a grandeza da natureza, sobre a imprevisibilidade da paixão, sobre a infinitude do cosmos e da vida.

O mistério de ser, estar, sentir. O mistério de permanecer, ou de não poder mais permanecer. A novidade que te pega de surpresa, crescida dentro de um espaço que se julgava tão conhecido: o eu, o meu coração, a minha existência... sempre continuará a ser um mistério. Para quem é e para o outro.

O porquê está longe de ser decifrado. Este enigma intrincado dentro do peito continuará guardando o caminho secreto da existência.

Portanto, supreenda-se comigo e me surpreenda, por favor. Ou venha juntar-se a mim a decifrar-me. Traga a coragem para vislumbrar o que tenho guardado aqui. E não esmoreça, por favor, não desista. Não há outra forma de sentir que a vida é tão bela, a não ser aceitando profundamente o mistério da vida.

Om Shanti!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

REMEMBERING: nos tempos da Booker


Eu devia ter uns sete anos, minha irmã cinco. Estávamos na minha tia, que morava numa casa pequena a dois quarteirões de nós. Adorávamos ir lá! Era um pessoal animado, famiglia italiana, todos falando alto e ao mesmo tempo. Minha tia sempre carinhosa dava uns abraços desses de espremer contra o peito, peito de zia italiana. Vire e mexe dávamos uma passadinha na casa dela, para um café, uma conversa, para saber das últimas. Desta vez, era fim de tarde e estávamos lá com meu pai. Provavelmente porque ele "deu uma passadinha" para falar alguma coisa com o meu tio. (Na verdade, não são tios. Meu pai é filho único. São primos-irmãos, que foram criados tão próximos do meu pai que, para mim e para minha irmã, sempre foram nossos tios). E conversa vai, conversa vem, foi ficando tarde. Tínhamos chegado de dia e quando saímos já era noite. Umas dez da noite, talvez. E devia ser sexta-feira. Se fosse no meio da semana, meu pai não teria nos deixado ficar até tarde, porque amanhã tem escola! Acho até que a gente deve ter comido alguma tranqueira por lá tipo, pizza, bolo, bolacha, refrigerante, coisa que só se come em casa de tia mesmo. Não lembro muito bem.
Mas estávamos a pé e tinha dado aquela esfriada, e a gente de shortinho anos 80. Camisetinha sem manga e conga. Meu pai nos pegou pela mão, uma de cada lado, e fomos andando apressados. Rapidinho, rapidinho que está frio... A cada passada larga que ele dava, eu e minha irmã dávamos duas passadinhas largas de criança. Não tinha ninguém na rua. A molecada que sempre estava jogando bola por ali já tinha ido para a cama, nenhum cachorro latia, o guarda noturno já encostado e tirando um cochilo na cadeira. Tinha um grilo cri...cri...cri.. Uma névoa. Tinha também uns bueiros por ali, e de vez em quando corria alguma ratazana para dentro dele. E um terreno baldio com pés de mamona balançando com o vento. Vinha pouca luz dos postes e das casas. Nossa, se bobear era mais tarde, então... Não lembro muito bem.
E eu medrosa, com medo de fantasma, de ladrão e com frio, apertei forte a mão do meu pai. Meu pai forte e protetor, naquele dia disse que, naquele passo e de mãos dadas comigo e com minha irmã, ele iria até o fim do mundo! Eu era pequena, mas já entendia as metáforas. O medo passou. E eu sempre me lembro disso ,até hoje!
***
Na mesma rua, a das crianças jogando bola, do terreno e dos bueiros, duas casas para baixo da minha, morava uma grande amiga. Passamos boa parte da nossa pré adolescência brincando juntas. Eu não era muito de bola, e ela, um pouco mais velha que eu, também já não ligava tanto. Era uma tarde aqui, outra lá, trocando papel de carta, adesivos, cortando revistas... E o dia em que ela ganhou um radio-toca-fitas do pai? Eu não dava sossego porque queria gravar as músicas que tocavam no rádio. E também não dava sossego para a Pimpa, a cachorrinha!... Não lembro bem, mas acho que foi quando ela terminou o colegial que a família se mudou para outro estado.
Os anos passaram, eu fui cuidando da minha vida aqui e ela cuidando da dela, lá. Foram poucas as vezes em que a vimos novamente, já crescidas, numa dessas visitas de fim de ano. Mas como o mundo é uma pracinha, e a internet tem esse lado lindo de colocar as pessoas em evidência e em contato, descobri recentemente que minha amiga de infância é fotógrafa! Fiquei encantada com a sensibilidade dela. E feliz, em saber que o tempo passa e as pessoas queridas crescem, não só no tamanho, mas na existência.
E aqui está, então, publicada uma das fotos da minha amiga-de-infância-que-mora-distante! (prometemos uma para a outra nos encontrarmos na sua próxima visita a são paulo)
ps: Debs, eu sei que na foto acima são as mãos de um casal, mas pensando nos velhos tempos da Booker, ela me fez lembrar deste episódio com meu pai!
OM SHANTI!

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Médica formada na Faculdade de Medicina do ABC em 1999. Fez residência em Pediatria na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP até 2002.

Especializou-se em Homeopatia pela Escola Paulista de Homeopatia, atual ICEH, de 2003 a 2005.

Seu interesse em Ayurveda nasceu com o início das práticas de Yoga em 2002. Em 2007, fez o módulo I de formação em Yoga com Pedro Kupfer. Em 2008 concluiu a formação em Ayurveda na Clínica Dhanvantari em São Paulo, com Dr. Luiz Guilherme Corrêa Neto.

Na Índia, fez estágio em Ayurveda e Pregnancy & Baby Care na “School of Ayurveda & Panchakarma”, Kannur, Kerala, em Janeiro de 2009 e no Arya Vidya Peetam Trust, AVP Hospital, Coimbatore, em janeiro de 2010.

Atualmente trabalha na em seu consultório, atendendo a consultas de Pediatria e Puericultura, permeadas pela Homeopatia, pelo Ayurveda e pela sua bagagem de maternagem.

Escreve o blog PEDIATRIA INTEGRAL no Portal de maternidade ativa Vila Mamífera.

TODOS SOMOS UM