domingo, 28 de junho de 2009

REMEMBERING: My dear South Africa !!!

Todo mundo falando da África do Sul! Que bom! A África do Sul ocupa em espaço enorme no meu coração! Em 1992 estive lá, como intercambista. Morei 3 meses com uma família muito especial, os Geldenhuys. O intercâmbio tinha fins culturais e de aperfeiçoamento do inglês, mas foi muito mais do que isso. Aprendi muito mais do que isso na Africa do Sul.

No início, o choque. Minha mãe quase teve um infarto ao me ouvir dizer que tinha escolhido ir à AFRICA e não aos Estados Unidos, como todos os teens de 16-17 anos sonhavam em ir. Africaaa??? Claro, Africa. O que ela esperava? (Acho que foi a primeira comprovação do meu gosto pelo novo e pelo inexplorado). Sempre tive o costume de deixar meus pais de cabelo em pé com o meu jeito. Mas dessa vez peguei pesado com eles! Que aluno do meu colégio burguês já havia estado na Africa??? Ou pelo menos cogitado a possibilidade de um dia ir à Africa do Sul? Afinal, o que eu iria aproveitar da Africa? Minha mãe dizendo minha filha está fazendo intercâmbio na África... e os outros pais respondendo Africaaaa???? com a expressão de o que ela foi fazer lá?!

Lembrando que em 1992 não tinha copa do mundo na Africa, não tinham celebridades, não tinha economia estável,"nada pra se ver" lá. O país tinha acabado de sair da sansão imposta devido ao apartheid. O presidente ainda era Frederik de Klerk , o último presidente branco, que participou da libertação de Nelson Madela em 1990, legalizando o CNA e outros movimentos de libertação. Mandela, para minha surpresa, comandava o CNA de forma bastante turbulenta e violenta...

Mas depois pudemos conhecer o grupo todo que ia naquele ano, o grupo que tinha ido no ano anterior... minha mãe viu que ninguém era de Marte, que todos voltaram da Africa com seus braços e pernas inteiros, sem mordidas de leão e tal. E aí tudo se acalmou e eu fui morar 3 meses na Africa do Sul, numa cidadezinha de praia chamada Amanzimtoti, a 40 minutos de Durban.

Lá fiz grande amigos! Vivi momentos inesquecíveis e que tenho MUITAS saudades, até hoje. Por um bom tempo nos correspondemos por cartas, (em 1992 não tínhamos acesso à internet!) até que a minha família se mudou de Amanzimtoti e perdemos contato.

Eu nunca desisiti de saber deles. Logo que aprendi a navegar na net comecei a procurá-los. Talvez lá na Africa do Sul eles tenham demorado um pouco para deixar pistas na web. Fiz que fiz, mas somente em 2005 encontrei umas das minhas 3 irmãs, num site de relacionamento de ex-alunos do highschool de Amanzimtoti! Madei um email perguntando se era ela mesmo, e era!!! A partir daí fiquei sabendo as novidades de todos! Meu pais sul-africanos Niek e Annette, já grisalhos, não tão alegres como antigamente, devido a ... à vida, que passou. A vida na Africa do Sul ficou bastante dura depois que retornei ao Brasil. Recessão, violência, desemprego. Muito como aqui, mas tive a impressão de que a por lá, a coisa ficou realmente muito preta. Na época em que estive lá, eles tinham um vida confortável, casa grande, carros bons, muito conforto. E quando Niek perdeu o emprego tudo isso acabou. Fiquei tão sensibilizada!

Eles são brancos, falam Afrikaans, o dialeto da África do Sul resultado da junção entre o que falavam os colonos europeus e a força de trabalho não-européia trazida à região pelos holandeses. Apesar de brancos e de viverem na época numa cidadezinha predominantemente branca, tinham amigos indianos e negros, e também portugueses. Aprendi com eles que, mesmo a Africa do Sul tendo o horrível apartheid no seu passado, isso não importava. O preconceito está dentro de nós, muito mais do que nas leis. E esta família tinha uma atitude de coração aberto, de apoio a abertura política e social e desprovida de preconceitos. Eram verdadeiramente preocupados com o próximo, sem se importar com a cor da pele. Participavam de discussões e tinham atitudes preocupadas com o futuro do seu país. Tinham um patriotismo saudável, uma vontade de mudar, ou pelo menos amenizar, os horrores do apartheid. E ao mesmo tempo, sofreram com as consequências de tantas mudanças na história recente de seu país.

Hoje, mais madura, percebo não foi à toa que escolhi a África do Sul para mergulhar no novo. Sim meu inglês voltou de lá afiadíssimo! Lembrem que em 1992 não tinha messenger, nem skype e ligar para o Brasil custava bem caro - fiquei literalmente os 3 meses falando inglês. Nenhum brasileiro em Amanzimtoti e apenas 4 telefonemas para o Brasil: Oi mãe cheguei bem, Feliz Natal, Feliz Ano Novo e Oi mãe, estou voltando. O resto era por carta.

Lá, aos 17 anos, conheci pessoas especiais, um país peculiar na sua história e na sua natureza, pela primera vez me questionei sobre preconceito, sobre direitos humanos, política e Nelson Mandela. Vivi na pele aquelas aulas chatas de história e geografia do colégio.

Foi na África do Sul também que conheci o meu primeiro amor e vivi um dos sentimentos mais puros e verdadeiros da minha vida.... mas essa é uma OUTRA história - fiquem tranquilos, não vou deixar de contá-la!!! (Em se tratando de mim, tinha que ter me apaixonado na África do Sul, claro! Imagina se o meu primeiro amor ia ser o professor do colégio, como todas as teens que sonhavam ir aos Estados Unidos.....hahahahaha!)

Hoje entendo porque, na minha ida, subi no avião sorrindo e festejando, feliz e saltitante. Ao contrário dos outros que se debulhavam em lágrimas ao se despedirem dos seus pais, assustados como a aventura que estava por vir. E entendo mais ainda porque, na minha volta, ao desembarcar, era só eu que chorava ao abraçar os meus.

OM SHANTI!

3 comentários:

angela disse...

Oi Silvia
Adorei seu blog.
E gostei dessa alma aventureira e inquieta.
beijos

Dalva M. Ferreira disse...

Eu precisava ter ido à África. E à Àsia. Quem sabe na próxima reencarnação? Enfim: não me conformo de viver atada a um só ponto no universo tão grande e tão diverso!

Dri disse...

Oi, Silvia! Também gostei muito de te ler! Essa história de sua experiência na África é fantástica, pela lição de vida que ela representa! Temos visões tão estereotipadas sobre esse país e sua gente! Adorei! Voltarei e espero que um dia desses eu possa ler essa OUTRA HISTÓRIA que você prometeu que vai contar!!!
Bjos

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Médica formada na Faculdade de Medicina do ABC em 1999. Fez residência em Pediatria na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP até 2002.

Especializou-se em Homeopatia pela Escola Paulista de Homeopatia, atual ICEH, de 2003 a 2005.

Seu interesse em Ayurveda nasceu com o início das práticas de Yoga em 2002. Em 2007, fez o módulo I de formação em Yoga com Pedro Kupfer. Em 2008 concluiu a formação em Ayurveda na Clínica Dhanvantari em São Paulo, com Dr. Luiz Guilherme Corrêa Neto.

Na Índia, fez estágio em Ayurveda e Pregnancy & Baby Care na “School of Ayurveda & Panchakarma”, Kannur, Kerala, em Janeiro de 2009 e no Arya Vidya Peetam Trust, AVP Hospital, Coimbatore, em janeiro de 2010.

Atualmente trabalha na em seu consultório, atendendo a consultas de Pediatria e Puericultura, permeadas pela Homeopatia, pelo Ayurveda e pela sua bagagem de maternagem.

Escreve o blog PEDIATRIA INTEGRAL no Portal de maternidade ativa Vila Mamífera.

TODOS SOMOS UM