terça-feira, 11 de agosto de 2009

REMEMBERING: nos tempos da Booker


Eu devia ter uns sete anos, minha irmã cinco. Estávamos na minha tia, que morava numa casa pequena a dois quarteirões de nós. Adorávamos ir lá! Era um pessoal animado, famiglia italiana, todos falando alto e ao mesmo tempo. Minha tia sempre carinhosa dava uns abraços desses de espremer contra o peito, peito de zia italiana. Vire e mexe dávamos uma passadinha na casa dela, para um café, uma conversa, para saber das últimas. Desta vez, era fim de tarde e estávamos lá com meu pai. Provavelmente porque ele "deu uma passadinha" para falar alguma coisa com o meu tio. (Na verdade, não são tios. Meu pai é filho único. São primos-irmãos, que foram criados tão próximos do meu pai que, para mim e para minha irmã, sempre foram nossos tios). E conversa vai, conversa vem, foi ficando tarde. Tínhamos chegado de dia e quando saímos já era noite. Umas dez da noite, talvez. E devia ser sexta-feira. Se fosse no meio da semana, meu pai não teria nos deixado ficar até tarde, porque amanhã tem escola! Acho até que a gente deve ter comido alguma tranqueira por lá tipo, pizza, bolo, bolacha, refrigerante, coisa que só se come em casa de tia mesmo. Não lembro muito bem.
Mas estávamos a pé e tinha dado aquela esfriada, e a gente de shortinho anos 80. Camisetinha sem manga e conga. Meu pai nos pegou pela mão, uma de cada lado, e fomos andando apressados. Rapidinho, rapidinho que está frio... A cada passada larga que ele dava, eu e minha irmã dávamos duas passadinhas largas de criança. Não tinha ninguém na rua. A molecada que sempre estava jogando bola por ali já tinha ido para a cama, nenhum cachorro latia, o guarda noturno já encostado e tirando um cochilo na cadeira. Tinha um grilo cri...cri...cri.. Uma névoa. Tinha também uns bueiros por ali, e de vez em quando corria alguma ratazana para dentro dele. E um terreno baldio com pés de mamona balançando com o vento. Vinha pouca luz dos postes e das casas. Nossa, se bobear era mais tarde, então... Não lembro muito bem.
E eu medrosa, com medo de fantasma, de ladrão e com frio, apertei forte a mão do meu pai. Meu pai forte e protetor, naquele dia disse que, naquele passo e de mãos dadas comigo e com minha irmã, ele iria até o fim do mundo! Eu era pequena, mas já entendia as metáforas. O medo passou. E eu sempre me lembro disso ,até hoje!
***
Na mesma rua, a das crianças jogando bola, do terreno e dos bueiros, duas casas para baixo da minha, morava uma grande amiga. Passamos boa parte da nossa pré adolescência brincando juntas. Eu não era muito de bola, e ela, um pouco mais velha que eu, também já não ligava tanto. Era uma tarde aqui, outra lá, trocando papel de carta, adesivos, cortando revistas... E o dia em que ela ganhou um radio-toca-fitas do pai? Eu não dava sossego porque queria gravar as músicas que tocavam no rádio. E também não dava sossego para a Pimpa, a cachorrinha!... Não lembro bem, mas acho que foi quando ela terminou o colegial que a família se mudou para outro estado.
Os anos passaram, eu fui cuidando da minha vida aqui e ela cuidando da dela, lá. Foram poucas as vezes em que a vimos novamente, já crescidas, numa dessas visitas de fim de ano. Mas como o mundo é uma pracinha, e a internet tem esse lado lindo de colocar as pessoas em evidência e em contato, descobri recentemente que minha amiga de infância é fotógrafa! Fiquei encantada com a sensibilidade dela. E feliz, em saber que o tempo passa e as pessoas queridas crescem, não só no tamanho, mas na existência.
E aqui está, então, publicada uma das fotos da minha amiga-de-infância-que-mora-distante! (prometemos uma para a outra nos encontrarmos na sua próxima visita a são paulo)
ps: Debs, eu sei que na foto acima são as mãos de um casal, mas pensando nos velhos tempos da Booker, ela me fez lembrar deste episódio com meu pai!
OM SHANTI!

2 comentários:

CarolBorne disse...

Amei ler isso aqui! Mais um caso de sincronicidade bloguística aguda!

angela disse...

Silvia
Deicia de reminiscencias.
Pai, tia, amigos, brincadeiras.
A foto é muito bonita
Abraços

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Médica formada na Faculdade de Medicina do ABC em 1999. Fez residência em Pediatria na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP até 2002.

Especializou-se em Homeopatia pela Escola Paulista de Homeopatia, atual ICEH, de 2003 a 2005.

Seu interesse em Ayurveda nasceu com o início das práticas de Yoga em 2002. Em 2007, fez o módulo I de formação em Yoga com Pedro Kupfer. Em 2008 concluiu a formação em Ayurveda na Clínica Dhanvantari em São Paulo, com Dr. Luiz Guilherme Corrêa Neto.

Na Índia, fez estágio em Ayurveda e Pregnancy & Baby Care na “School of Ayurveda & Panchakarma”, Kannur, Kerala, em Janeiro de 2009 e no Arya Vidya Peetam Trust, AVP Hospital, Coimbatore, em janeiro de 2010.

Atualmente trabalha na em seu consultório, atendendo a consultas de Pediatria e Puericultura, permeadas pela Homeopatia, pelo Ayurveda e pela sua bagagem de maternagem.

Escreve o blog PEDIATRIA INTEGRAL no Portal de maternidade ativa Vila Mamífera.

TODOS SOMOS UM