Ficar totalmente envolvida com o hospital foi muito mais legal do que eu esperava! Tínhamos uma rotina que me fez lembrar bastante dos tempos do internato na Faculadade de Medicina:
Pela manhã visitas à enfermaria com o chefe: Dr. Narayana - nos primeiros dias um senhor sizudo, rápido, passava aqui e ali nos quartos sendo muito simpático e atencioso com os pacientes! Mas nós parecíamos uns fantasminhas atrás dele! Durou pouco: na primeira brecha lá fui eu com mil perguntas para Dr. Narayana - e ele gostou! Devagar fomos quebrando o gelo, até o ponto em que, ao sair da enfermaria, ele resumia rapidamente para nós a evolução do paciente. Nas últimas visitas Dr. Narayana já estava todo feliz de ter "médicas-estudantes" (como ele mesmo se referia à nós) acompanhando o seu trabalho! E nós, totalmente honradas com a atenção dele...
Depois do ambulatório a gente almoçava na cantina do hospital. Era nos servido o "prato feito" do dia - o thali: arroz, dhal (lentilha), vegetais, curd (iogurte), chutney, pickles e papad (pãozinho frito) e a sobremesa que normalmente era arroz-doce ou sagu. Uma delícia de refeição vegetariana, a gente não enjoava! Nem do thali nem do dosa - a "panqueca sem recheio" do café da manhã! Bom, para comer o thali, você vai misturando os caldinhos no arroz, amassa com os dedos vinte e cinco vezes pra cá, vinte e cinco vezes pra lá, para formar tipo um bolinho e nhac! (a história das vinte e cinco vezes é só uma brincadeira nossa de observar os indianos comendo com a mão numa prática... a gente bem que tentou mas ficamos longe de fazer como eles!)
"two dosa, two tea, please!"
À noite jantávamos e íamos para o nosso canto lá no Aditya Apartaments, na própria Trichy Road, o alojamento do AVP Hospital - tipo uma república, que ficavam os estudantes gringos. Bem roots, no melhor estilo Índia, mas ficou a nossa cara depois de uma faxininha básica...
Esses tempos em Coimbatore foram mesmo ricos demais! Tanto no que eu aprendi de Ayurveda - ver a experiência clínica deles foi fundamental para eu sair mais ainda da teoria e fazer a aplicação prática ter todo sentido - apesar da fisiopatologia ser tão diferente, os medicamentos tão diversos, apesar do Ayurveda ser uma ciência antiquíssima, a forma com que eles praticavam Ayurveda lá era literalmente medicina. Digo, para eu que vivi os tempos de internato e residência médica, chegar lá e ver o Ayurveda ser exercido junto com tudo o que eu vivienciei na minha prática médica convencional, foi excepcional. Parecia que falávamos a mesma língua. Qual não foi minha alegria ao chegar no AVP Hospital e poder ter em minhas mãos os prontuários, as prescrições, as histórias clínicas tiradas pelos residentes, as discussões de caso, as visitas... tudo, tudo, tudinho como eu aprendi na faculdade - e concluí: medicina é medicina - mudam o raciocínio e os instrumentos, mas prática médica continua sendo prática médica em qualquer lugar do mundo e com qualquer sistema de medicina. Fiquei muito feliz de ver a seriedade, a ética, a precisão e a conduta perfeita dos médicos indianos. Espero que eu consiga trazer isso para a minha prática também!
Tenho certeza que cada vez mais o Ayurveda vai se estabelecer como prática médica aqui no Brasil, assim como aconteceu com a Medicina Tradicional Chinesa e a Homeopatia. É muito importante que o público em geral comece a ver o Ayurveda desta forma: um sistema de medicina que abrange muito mais do que técnicas de massagem e tratamentos superficiais. O Ayurveda pode e deve ser exercido na sua forma mais ampla, por profissionais com conhecimento médico, para tratar os mais diversos tipos de doenças.
Estou mais do que feliz por ter constatado tudo isso lá na Índia e por estar ligada, aqui no Brasil, à Clínica Dhanvantari e às pessoas que pensam da mesma forma que eu e que, com certeza, não medem esforços para exercer o Ayurveda com toda propriedade ética.
OM SHANTI!
2 comentários:
Silvia
Que experiencia legal!
Fico feliz em ver seu entusiasmo e paixão, isso é fundamental para uma pratica tão importante e que cuida da gente.
beijos
Silvinhaaaaaa!!!
Quero um dosa! (and tea, of course!) very big!!
Postar um comentário