domingo, 26 de julho de 2009

NONSENSE: um parágrafo e seis palavras


Logo que voltei da Índia li "Comer, Rezar e Amar" de Elizabeth Gilbert. Antes da minha viagem muita gente já tinha me sugerido esta leitura, mas eu relutei, achando que a história era clichê e que não me ofereceria nada de novo, nada muito além do que eu já conhecia sobre Índia e tal. Mas, na volta, no processo de retorno ao meu mundinho convencional, topei ler.

Gostei, principalmente por ser um livro de memórias, me senti compartilhando com a autora as experiências vividas na Itália e na Índia. (diga-se de passagem que, assim como ela, iniciei minha viagem pela Itália e também me empanturrei com mil delícias!) Além do mais, E. Gilbert escreve com leveza e tem um ótimo senso de humor.

Mas o que mais me tocou no livro foi um parágrafo. Resume tudo. Foi como se a autora estivesse me descrevendo. Impressionante. Como se ela me conhecesse e compartilhasse comigo as mesmas buscas, a mesma angústia, a mesma ânsia de quem quer sair pelo mundo bebendo de todas as águas possíveis, estudando, aprendendo, conhecendo o novo e o inusitado. Me vi ali naquele parágrafo. Como se fossemos velhas amigas trocando confidências:

"Durante estes últimos anos, passei muito tempo perguntando-me o que devo ser. Esposa? Mãe? Amante? Celibatária? Italiana? Glutona? Viajante? Artista? Iogue? Mas não sou nenhuma destas coisas, pelo menos, não completamente. E também não sou a maluca da Tia Liz (Sil). Sou apenas uma arisca antevasin - nem isso nem aquilo - uma aprendiz de fronteira em eterna mutação, próxima à floresta maravilhosa e assustadora do novo."

Sim, Liz, eu também. (É engraçado porque também ouvi tantas vezes da minha mãe e da minha irmã: "Ai Silvia, só você mesmo; é doida..." - até nisso!)

E o parágrafo ficou aqui guardado, esperando aparecer a inspiração certa para que eu pudesse escrever sobre ele.

Como nada é por acaso, hoje, navegando por aí nos blogs alheios, tive a grata surpresa de me deparar com o post que me trouxe a inspiração. Do blog "Qualquer dia aparece um título genial" (já linkado aí do lado)e aliás, ele todo muitíssimo inspirado, o post "Só seis".

O autor, Fernando, propõe descrever uma pessoa com apenas seis palavras. Ele mesmo, cheio de criatividade, descreveu algumas - o Obama, o Caetano, o Amir Klink. Genial mesmo. E assim, fui convidada a me resumir em seis palavras: daí a inspiração.

Sem o talento da Liz e do Fernando, me resumi:

"Vida? Sigo plena inventando uma nova !"

Por isso sou indiana e italiana, esposa e amante, médica e paciente, iogue e mundana. Por isso sou meio vegetariana. Meio hindu. E ainda assim, não deixo nada pela metade. Na minha vida cabem muito mais "E"s do que "OU"s. Porque tem que ser isso ou aquilo, assim ou assado? Não é uma questão de dúvida ou de não conseguir decidir, apesar de aparecer assim aos olhos da maioria. É simplesmente a antiga questão de ter liberdade para experimentar. Só é livre quem experimenta. Livre para ir lá, do outro lado da fronteira, experimentar e voltar, trazendo na alma todas as impressões, para que a vida se faça nova mais uma vez! Isto é plenitude!
(foto: me clicaram sendo meio hindu... rs...)

Om Shanti!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

SAIBAM: Sarveshaam

Om
sarveshaam svastirbhavatu
sarveshaam santirbhavatu
sarveshaam purnambhavatu
sarveshaam mangalam bhavatu
Om
Sarve bhavantu sukhinah
sarve santu niraamayaah
sarve bhadraani pashyantu
maakachit duhkha bhaag bhavet

OM Shanti, shanti, shanti

Hari Om!

***
May auspiciousness be unto all
May Peace be unto all
May fullness be unto all
May prosperity be unto all

May all be happy
May all be free from disabilities
May all behold what is auspicious
May none suffer from sorrow

OM, peace, peace, peace!

So be it!
Este mantra é cantado em ocasiões especiais. Ele fala só de coisas boas e tem a força suficiente para espalhar um energia poderosa e auspiciosa entre todos os seres do Universo.


A primeira vez que ouvi este mantra e que aprendi a cantá-lo foi no DVD do Concert for George.

Não sabia direito o seu significado, mas memorizei da forma como eu entendia e passei a repetí-lo algumas vezes. Na formação em yoga aprendi vários outros mantras importantes, mas ainda não tinha ouvido a tradução deste aqui.

Foi só este ano, na Índia, para a minha alegria, que puder LER o mantra e entendê-lo palavra por palavra. E por isso este mantra me é tão querido. Lá na Índia pude compartilhar essas palavras e a energia delas. As entoar em coro. Trago este mantra comigo, junto com as lembranças da viagem, com as conexões que ele criou e com o prana gerado por ele.
Assim como no DVD, canto este mantra agora, para inaugurar e marcar um início.
Sentada de pernas cruzadas, em frente ao pequeno nicho que arrumei para Lord Ganesha, acendo um incenso, Om Gam Ganapataye Namah e ofereço a Ele. Ofereço também a água, o fogo, as frutas e flores. Com o japa mala na mão, me concentro neste mantra, e repentindo-o inúmeras vezes, com toda a força do meu coração, eu peço ao Universo que abençoe meu próximo passo...
me dê forças e coragem para que as pernas não tremam
me dê saúde para o trabalho
me dê confiança para persistir
me dê generosidade para me doar
que eu não tenha medo
que eu não tenha dúvidas
que eu não exite em percorrer este longo caminho
que meu amor seja grande o suficiente para me guiar
que o que vivi até agora tenha me feito crescer e contribuído com o crescimento dos outros
que meu futuro seja sólido, produtivo e auspicioso para mim e para todos os seres que me rodeiam
se deixei marcas nos corações, que elas tenham sido positivas
que todos os seres que já estiveram, estão ou estarão comigo nesta vida possam levar de mim o meu melhor
que eu aprenda a permanecer, no aqui, no agora, como sou e onde estou
e agradeço...
pela luz que me foi dada
e por ela ter sido sutilmente tocada
por poder compartilhar da vida
por ter estado em dúvida e escolhido
pela coragem de aceitar o que me foi oferecido
Juntos as mãos em frente ao peito, fecho os olhos, sinto a profundidade de todo esse sentimento. Em uma inspiração profunda me concentro e em uma expiração longa pronuncio...
Om Shanti!

terça-feira, 14 de julho de 2009

SAIBAM: paneerzinho no Mascot


Ainda na onda Índia-comidinhas...

Chegamos ao Mascot Beach Resort, em Kannur, no estado do Kerala, Sul da Índia. Fiquei hospedada por 3 semanas, junto com a turma, durante o curso de especialização em Ayurveda. Apesar no nome, o hotel não chegava nem perto do que seria um resort, na nossa concepção ocidental. Eu sabia que era simples, afinal a diária era super barata (e não poderia ser de outro jeito, já que seriam 3 semanas de hospedagem... ) mas a primeira impressão.... afe! Limpeza, decoração, manutenção, toalhas, lençóis, restaurante e serviço a la indiana, claro. Mais uma supresinha!!! Mas bastou algumas horas lá para o Mascot, como ficou conhecido entre nós, mostrar que tinha muito mais do que decoração, toalhas, lençóis e blábláblás ocidentais!

No Mascot tivemos aulas, práticas e teóricas, naquele baita calor... Mas o Mascot tinha piscina, que no final da tarde era de poucos e servia para refrescar os miolos, relaxar sozinha ou jogando conversa fora e para contar os corvos que gritavam em volta, cráaa, cráaa...

O Mascot tinha vista para o mar. Oceano Índico. É ele na foto. E uma brisa morna, que amenizava nossos dias. O Mascot tinha também o por do sol mais especial do mundo! Ficou conhecido como Sunset. Todo dia parava para ver o Sunset. Meditava no Sunset, praticava yoga no Sunset, filosofava, observava, curtia. Mas na hora exata do Sunset o tempo parava. E era o silêncio que nos enchia de prana, de energia, de felicidade de estar ali na Índia, com pessoas especiais, aprendendo coisas especiais, compartilhando sentimentos especiais. Era o Sunset que nos dava a sensação de estarmos vivos, presentes e de fato experimentando a vida.
E depois do Sunset vinha a noite no Mascot. Noite, que era noite mesmo. Luzes acesas só até as dez e meia. Depois as luminárias lá de fora se apagavam e as estrelas do Mascot se revelavam. Inúmeras, cadentes. Ficávamos ali de camarote, no gargarejo. Olhando o universo. O cosmo. E mais uma vez, o silêncio nos preenchia, cortado apenas pelas filosofadas em baixo tom, deixando marcas no coração e também nos tornozelos, de tantas picadas de mosquito.

O Mascot também tinha um restaurante. Como em quase todo lugar na Índia nada é fácil, lá também não era! Para pedir o chá no Mascot:

- Can we have one TEA and one BLACK TEA, please?
-yes - o garçom ia escrevendo e conferindo em voz alta - one TEA, one BLACK TEA..... with milk, madam???? (black tea é sem milk, né???? pôooo!!!)

Sentados à mesa: -Can I have a bottle of mineral water, please? E eles traziam só a garrafa, sem o copo. E depois se pedisse copo, eles traziam um copo cheio de água, outra água! (????)

O Mascot tinha dessas coisas divertidas! Claro que a gente ria com carinho! Os indianos tem alguma coisa de ingênuos, são meio medrosos... não sei, meio crianças... alguns. Outros são espertalhões! Principalmente se querem vender alguma coisa! Mas no Mascot não! Todos eram muito... fofos! Ninguém conseguiu se irritar de verdade com o pessoal do Mascot!

Mas a comidinha que a gente mais gostava no Mascot era o Paneer Tikka. O cozinheiro ficou injuriado de tanto fazer paneer! É que é um queijinho, que não tem aqui, e era o único que tinha lá! Na Índia não tem muzzarela, parmesão, brie! Imagina! Nem se for procurar no supermercado! Até dava para encontrar um queijo tipo processado embrulhado um a um, sabe? Horrível, sem chance. Senão era só paneer. Sanduiche de queijo? Panner! Subway em Cochin: sanduiche de paneer tikka. Ah! e o tikka era pimenta, claro. Um pózinho ardido que eles colocavam em cima e o paneer ficava meio vermelhinho. E aí colocavam os pedacinhos em um espeto e assavam no tandoor, um forno de barro. Uma delícia.

E ainda ouço alguém que dizia:

"- E aí, paneerzinho, Sil? Sunset, vista pro mar, só falta a breja!"

Todo fim de tarde, depois do Sunset, era panneerzinho. Lá vem aquele bando de brasileiros acabar com o estoque de paneer - e acabava!

Uma coisa que o Mascot não tinha era bebida alcóolica. Mas, brasileiros e humanos que somos, demos um jeito de contrabandear a cerveja para dentro do Mascot. Bebemos com um guardanapo escondendo o conteúdo do copo, e comemos muito, mas muito paneerzinho.... até os indianos perguntarem : mas porque vocês gostam tanto de queijo? (queijo... ah se eles soubessem o que é um bom parmezão italiano...)
Ao longo de toda a viagem à Índia, mesmo depois de ter saído de Kannur, continuei sendo o terror dos paneerzinhos... Se não tinha o paneer tikka, por falta do forno, eu comia palak paneer, panneerzinho com espinafre, tudo bem! Tudo ótimo!

Segue a receita de um paneer meio parecido:

Para fazer o paneer:
1 litro de leite integral
2 colheres de sopa de limão

Ferva o leite em uma panela grande. Adicione o limão até que o leite talhe. Vá mexendo até separar o soro. Depois coe em um pano limpo. Quanto mais apertar, mais durinho vai ficar. Pode colocar um peso em cima para ele ficar sólido e poder cortar. Depois:

1 colher de sopa de óleo de girassol
15g de manteiga
1 colher de chá de sementes de cominho
250g de paneer
1 colher de chá de sal
1 colher de chá de pimenta do reino moída
1 colher de chá de garam masala
folhas de coentro picada
1 colher de sopa de suco de limão

Aquecer o óleo em uma panela anti-aderente (wok serve), e dar uma fritadinha no cominho até desprender o aroma. Adicionar o paneer, o sal, pimenta, massala, coentro e suco de limão. Mexa por + ou - 7 a 8 minutos. E está pronto para servir!
Om Shanti!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

INCURSÕES POÉTICAS: Rapidinha


umas palavras assim curtinhas
com pressa, rapidinhas

para lembrar você, meu amado
ainda que entenda tudo errado

é você que eu quero
e que morro de desejo

é com você que eu ardo
na doçura do seu beijo

Om Shanti!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

SAIBAM: Para pedir o Chai!


Na Índia nada é fácil. Tudo é tão diferente, tão diferente, que você tem que prestar atenção até para pedir o chá.

Cheguei no aeroporto de Mumbai, depois de 2 vôos da Europa, tonta. Tanto pelos vôos longos e o jet-lag, quanto pela um-milhão-e-cinquenta-e-dez informações que caem nos olhos, ouvidos, nariz, boca e pele! Uma deliciosa e enebriante confusão de sentidos! Saindo do avião, entra-se em um outro universo. Diverso, colorido! Tudo impressiona! A língua, a música, a comida, os costumes.... mesmo para quem já imagina o que vai encontrar por lá!

Enfim, cheguei ao hotel, bom, banhão, tal. Camona king, 6 travesseiros, hotel bom mesmo. Ai, delícia, o merecido descanso! Mas, na hora de deitar... o lençol que forrava o colchão só cobria os dois terços de cima, deixando os pés sem forro, direto no colchão encardido! Afe! Depois desta primeira surpresinha (muitas outras ainda estavam por vir, inumeráveis) a explicação: para o indiano os pés são a parte mais suja e desprezível do corpo. Na Índia é falta de educação sentar com as solas dos pés à mostra, mais que isso, é uma ofensa mostrar a sola dos pés. Por isso todo mundo senta de pernas cruzadas. Nas aulas de ioga, no momento do savasana (a postura deitada, de relaxamento), todos se deitam com a cabeça em direção ao professor e com os pés em direção ao fundo da sala. Ao contrário, nem pensar. Falta de respeito. E é por isso que tocar os pés é uma forma de reverência aos homens santos e aos gurus. Já que, estas pessoas em especial, são santas, puras, até os seus pés podem ser tocados.

No dia seguinte, o primeiro café da manhã... hummmmmm.... bolinhos de farinha de arroz, chamados Idli, com um molho para colocar em cima... hummmm.... que fome! Que ARDIDO!!!! puuutsss... adorei, mas ardeu, e tive que partir para as torradas com geleia mesmo. E ainda tinha Dosas, Chapati, Puris, Oopma, Lassi... Eu lá, enebriada com os aromas e sabores novos... perdida e curiosa... Nessas, vem o garçom perguntar:

"- Ticofi, madam?", balançando a cabecinha, um movimento que não é SIM, nem NÃO, nem TALVEZ.

Como é? Ticofi?!

"TEA OR COFFEE", era o que ele me perguntava - o primeiro tropeço com o inglês indiano! Mas sabe que não é só um sotaque, né? Eles falam inglês do jeito deles! É outro inglês! Amei, claro, e já aprendi!

- Tea, please.

E aí, surpresinha novamente: TEA é chá preto com leite, à moda inglesa. Tudo bem, adorei, já tinha tomado assim na Africa do Sul. Adorei e adotei, e até hoje só tomo chá preto com leite.

Ah, sim, se você não gosta com leite, peça BLACK TEA. É só chá preto puro, como tomamos aqui.

E TEA MASSALA é o chá preto com especiarias, sem leite.

 E o CHAI!!!! o CHAI é lindo, típico, delicioso.... é chá preto, com leite, com especiarias... E se você é adepto do Ayurveda, yogi e ama chá de gengibre do jeito que tomamos aqui, peça GINGER WATER. Se você pedir Ginger Tea vem chá preto com gengibre, forte demais, esqueça.

Bom, vamos à receita do CHAI:
2 xícaras de água
1 xicara de leite integral
2 colheres de sopa cheias de chá preto de boa qualidade (Assam ou Darjeeling)
5 cravos
3 paus de canela
1 pedaço de gengibre (+ou- uns 3 cm)
5 cardamomos

Colocar a água para ferver com as especiarias, ferver bastante. Apagar o fogo e colocar o chá. Deixar tampado, repousando um pouco para que fique bem concentrado. Depois adicionar o leite já aquecido e adoçar! Bico! Coar e servir.

Por favor, não vá tomar chai com bolacha, hein?

OM SHANTI!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

REMEMBERING + INCURSÕES POÉTICAS: Do fundo do Baú

Tem cada coisa especial que acontece! Hoje cedo, procurando o meu curriculum no meio dos meus arquivos antigos, descobri um texto que escrevi no início de 2005. Que bonitinho! Nem lembrava mais dele! Só sei que, na época, escrevi para alguém especial. De um detalhe eu lembro com certeza: me inspirei em Vinícius, (só para variar) e escrevi ouvindo Coldplay (X&Y). Os dois me embalam até hoje!

Por uns minutinhos lembrei com carinho daquele momento da minha vida. Lembrei do dono do poema e do carinho por ele. A minha aflição daquela época hoje não existe mais e deu lugar a esse carinho que cresceu e se tornou uma amizade bonita e sincera! A amizade nunca deixou de existir.

Hoje em dia não tenho a menor dúvida que nós dois aprendemos, não um com o outro, mas cada um do seu jeito e a seu tempo, a arte do encontro.


Te Encontrar (*)

Algumas vezes eu quis,
Você não pôde, não viu, não entendeu.
Outras vezes, você quis,
Eu não pude, não vi, não entendi.

E agora, sei que demorei e perdi a hora certa.
Sei que você tem pressa demais para esperar a minha hora certa.

Parece que, mais uma vez, perdi, perdemos, a chance.

De novo: Vinícius é que estava certo?
Mais um desencontro, outro desencanto...

Sinto tanto por ter que esperar até hora em que nós dois tenhamos aprendido a arte do encontro!


(*) publicado com a autorização do dono! ;)

Om Shanti!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

NONSENSE: Pés no Chão

Muito mais do que a cabeça, é o pé determina o momento da ação. Pé ante pé, ou na correria, não importa. Antes do movimento, vem o pé. Quantas vezes, prestes a dar o primeiro passo em direção ao definitivo, o pé ainda paira no ar, como se não soubesse se é este o momento certo para tocar o chão.

Continua suspenso porque é muito mais difícil botar os pés no chão do que mantê-los a uns 10 centímetros do solo. Já que, ao tocar o chão, ele pode ser enfiado na lama ou em algum buraco. Ou até de ser conduzido sobre um caco de vidro que causará uma ferida profunda. E isso pode ser bastante dolorido.

Quando os pés não tocam o solo não há limites ou esforço para ir aonde o desejo mandar. Flutuando, livre ao sabor do vento, leve e solto. Sem dor, sem arranhões, sem riscos. Mas com os pés no chão, não. O contato gera atrito, sensações boas e ruins, frio, calor, pressão. Com o tempo esse pé acabará ficando calejado e, por consequência, defendido. Trará as marcas de todos esses contatos. Um pé vivido. Um pé andado.

E eis que o pé andado encontra um terreno confortável. Macio, nutritivo, plano, firme, úmido, confiável. E cria raízes. E sabe que não vai mais sair de lá por um bom tempo. Ficará imóvel, ao mesmo tempo plácido, mais observando o que se passa a sua volta, do que desejando sair por aí a 10 centímetros do chão. Muito menos nas suas arriscadas andanças ásperas.
Ainda assim, mesmo cansado, calejado e enraizado, o pé saberá que a cabeça vai estar sempre nas nuvens, apesar dele firme no chão. E que esse mundo é mesmo totalmente sem pé nem cabeça.
OM SHANTI!

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Médica formada na Faculdade de Medicina do ABC em 1999. Fez residência em Pediatria na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP até 2002.

Especializou-se em Homeopatia pela Escola Paulista de Homeopatia, atual ICEH, de 2003 a 2005.

Seu interesse em Ayurveda nasceu com o início das práticas de Yoga em 2002. Em 2007, fez o módulo I de formação em Yoga com Pedro Kupfer. Em 2008 concluiu a formação em Ayurveda na Clínica Dhanvantari em São Paulo, com Dr. Luiz Guilherme Corrêa Neto.

Na Índia, fez estágio em Ayurveda e Pregnancy & Baby Care na “School of Ayurveda & Panchakarma”, Kannur, Kerala, em Janeiro de 2009 e no Arya Vidya Peetam Trust, AVP Hospital, Coimbatore, em janeiro de 2010.

Atualmente trabalha na em seu consultório, atendendo a consultas de Pediatria e Puericultura, permeadas pela Homeopatia, pelo Ayurveda e pela sua bagagem de maternagem.

Escreve o blog PEDIATRIA INTEGRAL no Portal de maternidade ativa Vila Mamífera.

TODOS SOMOS UM