quarta-feira, 27 de julho de 2005

NONSENSE: resumindo

Só para resumir aonde eu estou e onde eu quero chegar com tanta fosforilação:

"Simplicidade de caráter é o resultado natural da reflexão profunda"

Dizem que sou complexa. Faz sentido. É complexo e difícil chegar à simplicidade. Mas estou a caminho... peraí... já estou chegando... se depender de reflexão...

Om Shanti!


terça-feira, 26 de julho de 2005

SAIBAM: atestados

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Faz mais de uma semana que não publico nada. Minha cabeça não está tão criativa assim. Ando ocupada demais lendo e tendo embates filosóficos de mim comigo mesmo, impublicáveis... hehehehehe

Depois de ter assinado meu atestado de pobreza ao escolher fazer pediatria, ou pior ainda, infecto-pediatria... depois de ter assinado meu atestado de burrice quando... mmmmm... deixa pra lá quando, mas não faz muito tempo não e aliás, não foi um só! Depois disso tudo, não lembrava mais do meu último atestado.

Aí achei essa pic aí de cima, tirada no Original - e é realmente um atestado de que sou uma nerds, escrito de próprio punho e com letra de bêbada, sob a pressão da Mari e do Giba...até lembro o que eu tinha aprontado na ocasião, mas não vou contar não, não importa!O fato é: QUE NERRRDDSSS que eu sou! - E é bom que todos saibam disso, assim podem relevar se eu publicar qualquer coisa muito mais nonsense que este texto mesmo, ou tomar atitudes mais nonsense ainda. Pior: dizer uma coisa e fazer outra, confundir tudo, me atrapalhar um bocado até.... até..... até eu chegar onde estou hoje - botando as coisas no lugar.

Logo, logo vou poder declinar do meu atestado de nerds já que, devagar, estou conseguindo desanuviar toda a confusão da minha cabeça e pôr os sentimentos em ordem. Calma, calma, eu chego lá! Por enquanto podem me considerar assim: uma nerdzinha de bom coração querendo me encontrar. Comigo mesmo e com quem é nerds o suficiente para me aguentar! (digamos que a segunda parte é a mais difícil. Não é, definitivamente, fácil encontrar alguém nerds o suficiente para me aguentar. Minhas amigas bem que se esforçam...)

Mas, enfim, tudo progredindo: só esta minha constatação já é um progressinho... e vamos em frente, porque o humor, o instinto, o sexto sentido, a conjunção astral e qualquer outro feeling ou impressão que está pintando diz que as coisas estão, finalmente, at last, indo pelo caminho certo. (hope so)!

Om Shanti!

segunda-feira, 18 de julho de 2005

NONSENSE: buda e horizonte

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"Meio mexido, dividido? Um prato quer ir pra lá, o outro não quer saber de nada... As revolvências nas suas internas podem deixá-lo meio confuso, mas desse caldo caótico emergirão decisões importantes. Você está sempre pensando em fazer coisas e mais coisas, mas talvez esteja precisando mesmo é de umas boas férias!"

E depois, quem diz que horóscopo é bobagem? Eu mesmo não costumo dar muita bola para horóscopo, mas hoje tem tudo a ver: passei o fim de semana inteiro querendo saber qual meu lado da balança que pende mais - típico de libriano, isso. Uma hora isso, outra aquilo... sempre indeciso.

Mas minha vida e meus sentimentos estão tomando um rumo inesperado. Espero que seja o rumo certo, e não aquele monte de ilusão e fantasia que aparece de vez em quando, principalmente na cabeça aérea de librianos, como eu.

Não é de hoje que acho que estou olhando errado. Olho aqui, ali, talvez com o queixo alto demais, e estou deixando pessoas, coisas e momentos passarem. Quando os olhos estão fixos no horizonte, procurando algo muito à distância, aquilo que está aqui perto, embaixo do nariz, passa despercebido. Então, de uns tempos para cá, ando olhando para as pessoas, coisas e momentos mais de perto. Pessoas, coisas e momentos que estão aqui, bem embaixo do meu nariz e que passaram despercebidos por tanto tempo. Ou que não quis enxergar. Ou eu não estava preparada para enxergar.

Só sei que, nessas minhas viagens meditativas-reflexivas, concluí que muito do que eu imagino fazer parte daquilo que eu chamo de felicidade, pode muito bem estar aqui pertinho e não lá longe, no horizonte, onde eu estava procurando. Mesmo porque, o horizonte é tão distante e não chega nunca! O horizonte está sempre além, imutável, inatingível. Se a felicidade estiver lá, não vai ser alcançada, abraçada. Será sempre utópica, longínqua, distante... por isso me caiu essa ficha: as coisas ficam bem mais fáceis quando estão ao alcance da mão, do abraço, do colo, da boca. Que mania é essa de querer só o que não está ao meu alcance?

Acho que pode ser medo ao invés de mania. Quando alguma meta é atingida, quando um obejtivo ou um amor é conquistado, quando a felicidade chega, é inevitável que apareça o medo - medo de perder, daquilo não se perpetuar, de se extinguir ou voltar lá para o horizonte, o lugar inatingível de onde veio. Isso acontece porque eu, reles mortal, tenho uma grande dificuldade de entender que nada nessa vida é permanente. Tudo cicla, começa e termina, vem e volta. Apesar de estudar e entender um pouco de Budismo, realmente a impermanência das coisas me deixa um pouco atordoada.

Mas progredi, olha só: já consigo colocar em prática o conceito de que felicidade não está LÁ, mas AQUI e que é feita de coisas simples, pequenas. É só aceitar, quando ela aparece. Para mim isso muda tudo pois, como disse, consegui baixar a guarda e perceber certa pessoa, coisa, momento e sentimento que estavam por aí há algum tempo, passando despercebidos pelos meus olhos teimosos que só olham para longe, pelo meu coração bobo que só quer o que não pode, e pela minha cabeça totalmente nonsense que só se liga em que (ou quem) não precisa (ou não merece).

Agora, depois de tanta refelxão, budismo e horizonte, chegou a hora de fazer as coisas acontecerem. Chegou a hora de fluir, justo agora que estou livre das amarras e querendo arriscar sentir medo, perder, recomeçar. Melhor do que ficar parada olhando o horizonte e vendo o tempo passar. Aprendi a baixar o queixo, olhar em volta com um raio menor, sorrir e abraçar pessoas, momentos, sentimentos, causas... que a vida me oferece e que simplesmente não posso me dar ao luxo de desperdiçar.

Como nada é permanete, hoje saio da inércia e recomeço.

Om shanti! ॐ शन्ती

quarta-feira, 13 de julho de 2005

SAIBAM: A Daslu é só lama!

Neste último mês parece que atiraram MESMO merda no ventilador - depois de todo escândalo envolvendo os diligentes do PT, é um tal de aparecer mala de dinheiro pra cá e pra lá, até dinheiro da igreja Universal, que todo mundo já sabia que é uma lama só, apareceu apreendido por aí! E agora, para o meu deleite, o escândalo que faltava: qual não foi minha surpresa ao ficar sabendo hoje da prisão da proprietária da DASLU, Eliana Tranquesi. Se eu não tinha muita coisa contra essa perua infeliz, agora está escarrado que, além de perua, a mulher é uma BANDIDONA mesmo! Quem diria, hein? Entrou para o rol das celebridades imundas. Se já não ia com a cara desse povo DASLU e com toda a futilidade em torno desse luxo, agora então é que eu naõ engulo mesmo!

Gostaria de ver a cara da redação da revista VEJA que, por 4 ou 5 semanas seguidas, veio estampando a cara dessa contrabandista de luxo nas suas matérias e enaltecendo sua empresa, a DASLU. Quem acopanha meu blog sabe: logo que a VEJA começou a publicar essas matérias me manifestei enviando-lhes uma carta de repúdio a tanta futilidade, no meu último ataque de humanismo-utópico-visionário.

Mais uma vez deixo aqui meu manifesto: será que são essas pessoas que fazem nosso país melhor? Ou crescer? É esse o tipo de pessoa que merece ser exaltada incessantemente por uma revista como a VEJA? Gente assim tem o rabo preso com tudo o que é maracutaia, todo mundo sabe! Até parece que a revista VEJA não tem janela pra enxergar uma coisa dessas! Agora quero ver: vão publicar a foto da ex-perua, atual bandidona, atrás das grades??? Pois é, dona Eliana Tranquesi, quero ver se vai aguentar ficar em cima dos seus saltos Channel em 5 dias de xadrez!

Odeio Daslu, odeio perua e odeio gente dissimulada! Rica, com o rabo cheio de dinheiro sujo - como um monte de gente que está enfiada na merda até a testa e ainda está querendo sair por cima, ou provar que tem algum valor... e o outro monte de gente tonta que fica puxando o saco de tipos assim... eu é que não me presto a esse papelzinho...
Om Shanti!

Aqui, a reportagem do Terra:

Quarta, 13 de julho de 2005, 07h37 Atualizada às 13h52
Dona da loja de luxo Daslu tem prisão decretada

A proprietária da loja de produtos de luxo Daslu, localizada na zona sul de São Paulo, Eliana Tranchesi, teve a prisão decretada por cinco dias nesta quarta-feira. Ela foi presa no início da manhã desta quarta-feira em uma megaoperação da Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público. Cerca de 250 agentes realizaram uma varredura na loja. Eles cumpriram 33 mandados de busca e apreensão, baseados em denúncias de sonegação fiscal e subfaturamento de produtos.

Eliane foi levada para a sede da PF em São Paulo, no bairro da Lapa. Ela pode ser acusada, segundo informações passadas pela Polícia Federal, dos crimes de formação de quadrilha, falsidade material, ideológica e contra a ordem tributária. A empresária também pode ser denunciada pelo crime de sonegação fiscal sobre o lucro da megastore de luxo. O irmão de Eliana e dois empresários também foram detidos.

A empresária não poderá ser liberada sob fiança porque a prisão é cautelar.

Segundo o procurador da República em Guarulhos Matheus Baraldi Magnani, a investigação aponta importação fraudulenta feita por empresas declaradas inaptas pela Receita Federal, ou seja, fantasmas. As investigações começaram há seis meses com a apuração de fraude de importação no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Inaugurada no dia 8 de junho deste ano, o primeiro grande shopping de luxo de São Paulo reúne 120 marcas em 17 mil metros quadrados. Segundo Baraldi, as grifes também não estariam envolvidas nos crimes. Localizado às margens do rio Pinheiros, em uma das áreas mais nobres da cidade, o investimento no shopping girou em torno de R$ 200 milhões. No final da manhã, a Polícia Federal divulgou nota oficial sobre a operação.

Leia a íntegra da nota:

"A Polícia Federal, juntamente com a Receita Federal e o Ministério Público Federal, desencadeou hoje a operação Narciso, para cumprimento de 33 mandados de busca e apreensão e 4 mandados de prisão temporária em São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo e Paraná. A operação tem como objetivo impedir a continuidade do crime de sonegação fiscal da loja Daslu, localizada em São Paulo.
Os produtos vendidos na Daslu eram adquiridos de empresas importadoras que subfaturavam as mercadorias estrangeiras para diminuir a incidência de Imposto de Importação. O subfaturamento acontecia quando o importador substituía a fatura comercial verdadeira por outra com preço inferior. Este procedimento, além de diminuir o Imposto de Importação, fazia com que o IPI sobre o produto importado também ficasse diminuído, razão que justificava a revenda do produto importado à Daslu, por preço inferior à real transação comercial.
As empresas importadoras eram, na verdade, pessoas jurídicas constituídas para camuflar a importação irregular (sonegação fiscal) e burlar a fiscalização da Receita Federal. O conluio entre a loja Daslu e a importadora fica ainda mais evidente quando se verifica o balanço contábil da importadora, apresentando constantes prejuízos.
Os crimes verificados são: formação de quadrilha, falsidade material e ideológica, crimes contra a ordem tributária. É investigada ainda a possível sonegação fiscal sobre o lucro da empresa Daslu.
A operação envolveu 240 policiais federais nos 4 estados e 80 auditores fiscais da Receita Federal. Todo material recolhido será encaminhado à Polícia Federal, logo após sendo remetido à Receita Federal. Os mandados foram emitidos pela 2ª Vara Federal da Justiça Federal de Guarulhos.
As investigações começaram em 2004, quando a Receita Federal apreendeu em aeroportos de São Paulo e Curitiba, junto a mercadorias da loja, notas fiscais subfaturadas e as notas fiscais com os valores verdadeiros das mercadorias. A partir de então foram iniciadas as investigações. Uma entrevista coletiva está marcada para 15h30h , na sede da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo."


Redação Terra

terça-feira, 12 de julho de 2005

NONSENSE: odeio Avril Lavigne, amo Vinícius

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Nem sei quem é essa - tem uma voz chata - no mínimo é uma dessas cantorinhas que os adolescentes gostam... mas ontem à noite, voltando do plantão, passando pelo rádio sem parar em estação certa, tocou uma música dessa menina aí. Não sei se pelo tom melancólico, que combinou com o meu astral da noite passada, ou simplesmente porque eu não apertei botão para mudar de estação, fiquei ouvindo. E prestei atenção na letra, já que o farol estava fechado e mesmo que abrisse o trânsito não ia andar mesmo. E.. inevitável, já brotaram lágrimas nos meus olhos, certamente devido também ao meu estado 'TPêmico"... puts, bateu uma solidão, doída, daquela que fazia tempo que não aparecia. A sensação de estar sozinha no meio do povo: é carro, ônibus, pedestre, mil luzes, barulho... e um frio de lascar, it´s a damn cold night, o céu lindo, bem preto e a lua com um sorrizinho cínico lá em cima, ainda teimava em aparecer pela janela do meu apê a hora que cheguei. Fechei a cortina.

Esquentei água pra uma bolsa de água quente aquecer meu pé, sempre gelado, e fica pior quando meu coração está com frio. No one likes to be alone... peguei meu livro e enviei-me embaixo das cobertas, para ver se pelo menos minha cabeça parava de pensar em tanta confusão.

E tal como diz a viagem da música, somada à viagem "TPêmica", entrei na minha viagem também e percebi que essa sensação de solidão é totalmente infundada. Ela aparece de vez em quando, quando calha de tocar esse raio de música dessa tal Avril não-sei-o que, e faz brotar no coração a sensação de estar tão só... mas lá no fundo tenho o conforto de sentir "I dont know who you are, but I'm with you". Não sei quem, nem onde, quando, como, de que jeito, se está perto e eu não enxergo, se está tão distante que ainda não vejo, não sei. Só sei que tem alguém lá, ou aqui, e ainda não consegui descobrir quem é. "Só sei que nada sei".

I'm With You

I'm standing on a bridge
I'm waiting in the dark
I thought that you'd be here by now
Theres nothing but the rain
No footsteps on the ground
I'm listening but theres no sound

Isn't anyone tryin to find me?
Won't somebody come take me home?

It's a damn cold night
Trying to figure out this life
Won't you take me by the hand
take me somewhere new
I dont know who you are
but I'm, I'm with you..

I'm looking for a place
searching for a face
is there anybody here I know
cause nothings going right
and everythigns a mess
and no one likes to be alone

Isn't anyone tryin to find me?
Won't somebody come take me home

It's a damn cold night
Trying to figure out this life
Wont you take me by the hand
take me somewhere new
I dont know who you are
but I'm, I'm with you

why is everything so confusing?
maybe I'm just out of my mind...

Viu? Hoje sobrou uma enxaqueca e vontade de devorar uma lata inteira de brigadeiro. Um vazio no peito, frente aos últimos acontecimentos da minha vida pessoal, tão pouco intensos mas suficientemente estranhos para fazerem-me, mais uma vez, repetir Vinícius:

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."

Com uma frase só ele resume tudo: por enquanto, só estou desencontrando...

ps: ainda odeio Avril não-sei-do-que (apesar da música dela, se é que foi ela que escreveu, ter-me pego de surpresa) e amo Vinícius!

Om Shanti!

SAIBAM: corpo e cor é arte

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Domingo me deliciei com a exposição "Corpos Pintados" - todo mundo já viu, né? Eu sei. A espertona aqui só conseguiu se mexer porque achou que a exposição terminava neste domingo, e foi correndo. Depois vi que ainda vai até o dia 17. Ô mania de deixar tudo pra última hora... bom, valeu o incentivo da Kátia que me tirou da cama!

Chegando lá já demos de cara com uma estátua super realista, que fez a Ká ficar duvidando que era estátua por uns bons 15 minutos! E depois concluiu brilhantemente: "não tinha nenhum movimento respiratório mesmo..." eita...

Mas além de toda beleza da exposição, das mil cores ou do branco total, das formas, dos corpos jovens e lindos, dos bem velhinhos, negros, brancos, peludos, pelados, gordos... o segredo é que o corpo humano, na sua forma, não tem mistério nenhum... com tantos corpos nus expostos em tão variadas formas caem todos os tabus e todos os preconceitos.

Cada um é belo por si só, pelo seu jeito e sua forma, seja lá qual ela for. Cada um é especial e único, tendo impressas nele as marcas da vida, ou a pureza e inocência do pequeno recém-nascido que só começou a viver.

Adorei a exposição. Não choca, não agride. E faz a gente intuir que a maior de todas as obras de arte é a gente mesmo... mmmm... narcisita?! talvez. Mas por esse ângulo dá para ver beleza em tudo o que é corpo - fica mais fácil aceitar uma imperfeição aqui e outra ali - até para mim, que tratei de corrigir uma das minhas muitas imperfeições...


Om Shanti! ॐ शन्ती

quarta-feira, 6 de julho de 2005

SAIBAM: a breja e a prosa de Drummond

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Carlos Drummond de Andrade é uma delícia. A poesia, sempre adorei, desde a época do cursinho me deliciava... ácido sem ser grosseiro, crítico com bom humor, melancólico, romântico... perfeito! Mas a prosa... a prosa é melhor ainda. De tão atual me assusta. Os textos foram escritos por volta de 1970 e pouco e ainda são tão espetaculares...

Este texto que publico aqui me fez ficar de boca aberta - como adoro cerveja, buteco, garçom etc já me identifiquei de cara, e qual não foi minha surpresa ao ler que em 1974 Drummmond "previra" exatamente o que acontece agora.... hahahahaha!

E pude constatar que sou uma butequeira de primeira: vou sempre ao mesmo buteco (Original, todo mundo sabe, aliás, esse é um copo de chopp, mas tá valendo ), sento quase sempre na mesma mesa, sou servida sempre pelo mesmo graçom, peço sempre a mesma breja, e no meu caso é só pedir "a de sempre" que ele traz... ahhhhh.... coisa boa, breja, papo furado e acepipes do balcão... e depois... divagar... divagar... divagar.........

Tenha o prazer de se deliciar com esta leitura! Se puder, abra aquela cervejinha - a de sempre!

Om Shanti!
ॐ शन्ती

"A de sempre" (Carlos Drummond de Andrade)

— Até beber cerveja ficou difícil — queixa-se.


— O preço?

— Não. A variedade. O embaras du choix.

— Mas se você já estava acostumado com uma...

— E as novas que aparecem? Em cada Estado surge uma fábrica, se não surgem duas. Cada qual oferecendo diversas qualidades. Você senta no bar de sua eleição, um velho bar onde até as cadeiras conhecem o seu corpo, a sua maneira de sentar e de beber. Pede uma cervejinha, simplesmente. Não precisa dizer o nome. Aquela que há anos o garçom lhe traz sem necessidade de perguntar, pois há anos você optou por uma das duas marcas tradicionais, e daí não sai. Bem, você pede a cervejinha inominada, e o garçom não se mexe. Fica olhando pra sua cara, à espera de definição. Você olha para cara dele, como quem diz: Quê que há, rapaz? Então ele emite um som: Qual? Você pensa que não ouviu direito, franze a testa, num esforço de captação: qual o quê? Qual a marca, doutor? Temos essa, aquela, aquela outra, mais outra, e outra, e outras mais. . Desfia o rosário, e você de boca aberta: Como? Ele está pensando que eu vou beber elas todas? Acha que sou principiante em busca de aventura? Quer me gozar? Nada disso. O garçom explica, meio encabulado, que a casa dispõe de 12 marcas de cerveja nacional, fora as estrangeiras, sofisticadas, e ele tem ordem de cantar os nomes pra freguesia. Até pra mim, Leovigil? pergunto. Bem, o patrão disse que eu tenho de oferecer as marcas pra todo mundo, as novas cervejas têm de ser promovidas. Não mandou abrir exceção pra ninguém, eu é que, em atenção ao doutor, fiquei calado, esperando a dica... Não quis forçar a barra, desculpe.

— E aí?

— Aí eu disse que não havia o que desculpar, ordens são ordens e eu não sou de infringir regulamentos. Os regulamentos é que infringem a minha paz, freqüentemente. Mas para não dar o braço a torcer, nem me declarar vencido pela competição das cervejas, concluí: Leovigil, traga a de sempre.

— Não quis dizer o nome?

— Não. Minha marca de cerveja — "minha garrafa", digamos assim, pois a individualidade começa pela garrafa — passou a chamar-se "a de sempre". Não gosto de mudar as estruturas sem justa causa, nem me interessa dançar de provador de cerveja, entende?

— Mas que custa experimentar, homem de Deus?

— Só por experimentar, acho frívolo. Os moços, sim, não encontraram ainda sua definição, em matéria de cerveja e de entendimento do mundo. Saltam de uma para outra fruição, tomam pileques de ideologias coloridas, do vermelho ao negro, passando pelo róseo, pelo alaranjado e pelo furta-cor. Mas depois de certa idade, e de certa experiência de bebedor, você já sabe o que quer, ou antes, o que não quer. Principalmente o que não quer. E é isso que os outros querem que você queira. Tá compreendendo?

— Mais ou menos.

— Na verdade, não há muitas espécies de cerveja, no mundo das idéias. Mas os rótulos perturbam. Uns aparecem com mulher nua, insinuando que o gosto é mais capitoso. Bem, até agora não vi rótulo de cerveja mostrando mulher com tudo de fora, mas deve haver. Mulher se oferecendo está em tudo que é produto industrial, por que não estaria nos sistemas de organização social, como bonificação?

— Você está divagando.

— Estou. Divagar é uma forma de transformar pensamentos em nuvem ou em fumaça de cigarro, fazendo com que eles circulem por aí.

— Ou se percam.

— E se percam. Exatamente. 0 importante não é beber cerveja, é ter a ilusão de que nossa cerveja é a única que presta.

Sujeito mais conservador! Ou sábio, quem sabe?

Texto extraído do livro “De notícias & não notícias faz-se a crônica”, Livraria José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1974, pág. 137.

Pra saber mais: Carlos Drummond de Andrade







segunda-feira, 4 de julho de 2005

NONSENSE:...sai, pedra, do meu caminho!

"Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa, 18-9-1933

Fernando Pessoa era meio baixo astral, mas olha só como ele acerta nesse poema!

Nesta última semana, não sei porque (aliás, até sei sim), tenho experimentado essa sensação, que ele descreve no poema... e como na minha vida nada é por acaso, o poeminha veio parar na minha mão - por isso estou publicando aqui - só pra cutucar ainda mais esse questionamento, que algum dia todo mindo já fez: "mas afinal, o que é real e o que é só imaginação da minha cabeça???"

As coisas ficaram confusas e meu sexto sentido, que na maioria das vezes é plenamente confiável, começou a me pregar peças também... ai ai... tudo isso por causa de um fantasma que resolveu arrastar suas correntes na minha vida - de novo! E pronto... fermento suficiente pra minha imaginação...

Nessas horas é que fica difícil distinguir o que é verdadeiro e real daquilo que é só fantasia... por isso persistimos no erro: a imaginação acaba nos convencendo de que aquele é o caminho certo. Mas ao seguir por ele lá está a pedra, bem no meio do caminho - "no meio do caminho tinha uma pedra" como disse Drummond. e pimba! - o tombo! você acorda do devaneio ainda com a boca cheia de areia e percebe que aquilo era mesmo uma peça que pregamos em nós mesmos...

Como pode, né? como a gente se engana e se confunde com a própria cabeça? a gente inventa um treco, acredita nele, investe, vai fundo... e aí... puff! fatalmente acorda!

Bom, ainda bem que eu acordei, né? Já tomei meu tombo, já levantei, sacudi a poeira e agora sei bem onde estão as pedras. Não é fácil, mas daqui pra frente, sinto muito, estou vivendo o que é REAL. Não tem mais espaço para o que pode ou poderia ser. Quero o que É.

É uma bosta o que É. Até preferia acreditar em toda aquela fantasia porque ela me enchia de esperança, de sonho, de... sei lá do que mais... mas sempre tinha aquela sensação de que isso não é real, ou não vai durar, ou não confie nisso, tal. (o sexto sentido aí: avisando!)

Nã-nã-não: daqui pra frente é o concreto, o prático, o certo... é o que É! E o que É, é isso: pode parar de me rondar porque você já mostrou quem você é, eu já aprendi, na pele, no tombo, no coração - e apesar da sua voz doce, do seu jeito tooodo acolhedor, da mania de achar que tudo passa, ou que nada de mais grave aconteceu... eu já sei que isso é o que não é.

Sai, pedra, do meu caminho!

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Médica formada na Faculdade de Medicina do ABC em 1999. Fez residência em Pediatria na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP até 2002.

Especializou-se em Homeopatia pela Escola Paulista de Homeopatia, atual ICEH, de 2003 a 2005.

Seu interesse em Ayurveda nasceu com o início das práticas de Yoga em 2002. Em 2007, fez o módulo I de formação em Yoga com Pedro Kupfer. Em 2008 concluiu a formação em Ayurveda na Clínica Dhanvantari em São Paulo, com Dr. Luiz Guilherme Corrêa Neto.

Na Índia, fez estágio em Ayurveda e Pregnancy & Baby Care na “School of Ayurveda & Panchakarma”, Kannur, Kerala, em Janeiro de 2009 e no Arya Vidya Peetam Trust, AVP Hospital, Coimbatore, em janeiro de 2010.

Atualmente trabalha na em seu consultório, atendendo a consultas de Pediatria e Puericultura, permeadas pela Homeopatia, pelo Ayurveda e pela sua bagagem de maternagem.

Escreve o blog PEDIATRIA INTEGRAL no Portal de maternidade ativa Vila Mamífera.

TODOS SOMOS UM